quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um excesso de bagagem chamado Pearl Jam


Eu demorei a escrever esse texto, simplesmente, por julgar não existir palavras suficientes para contar tudo o que vivi. Todas as vezes que eu pensava em contar sobre a turnê do Pearl Jam, a "palavra certa" não surgia na minha mente e eu mal sabia por onde começar. E hoje, quase um mês depois de ter voltado pra casa, com os sentimentos mais "apurados", ainda não tenho certeza se conseguirei aqui transmitir o que senti.

Foram vinte dias, seis shows, cinco cidades e dois países. Viajei com uma mala que saiu de Recife com 22 kg e voltou com um excesso de bagagem de quase 100 kg. É que eu trouxe dentro dela dezenas de novos e grandes amigos, alguns dos quais eu serei eternamente grata ao Pearl Jam por ter sido a ponte para eu conhecê-los. Eu trouxe ainda muitos sorrisos e lágrimas de alegria e emoção, diversas sensações totalmente desconhecidas, porém deliciosas, e imagens e sons que nunca sairão do meu coração.

Jamais esquecerei o primeiro acorde ouvido ao vivo. Release sempre será mágica por ter sido a primeira. Jamais esquecerei quando vi a banda de tão perto no show do Rio. Das 10 primeiras músicas que não consegui cantar, bater cabeça, nada. Eu estava absolutamente hipnotizada, pois era muito, muito perto. Jamais esquecerei o Jeff tão perto e ao mesmo tempo tão longe pelo nosso excesso de respeito com ele no Rio. Jamais esquecerei da ousadia que deu certo com o Mike em Curitiba, do abraço dele e de seu carinho com a gente. Jamais esquecerei da conversa com o Eddie em Porto Alegre, da oportunidade de ter dito a ele tudo que sonhei nesses 15 anos, dos seus olhos azuis atentos, da sua mão suave e da surpresa quando ele elogiou a minha voz. Surreal!

Eu olho para trás e percebo que vivi os melhores vinte dias da minha vida. Eu estava no lugar certo, com as pessoas certas, no momento certo e fazendo a vida valer ainda mais a pena. Cada música cantada, gritada, chorada, sentida fez parte dos melhores momentos musicais que eu já vivi. E por isso mesmo, é impossível descrever o bem que essas canções me fizeram. A sensação era de “alma lavada”, de coração agraciado, de missão cumprida porque eu precisava viver aquilo, eu merecia viver aquilo. E como eu vivi e fui feliz.

Não adianta mais procurar. Eu estou convencida de que não há em vocabulário algum, palavras ou frases que representem o que essa turnê foi para mim. Mas pra quê explicar o que pode ser sentido? Eu tenho certeza de que todos os sonhadores, seja do que for, serão capazes de entender que sonhar é muito bom, mas que realizar um sonho é melhor ainda. Por isso, carregarei feliz o excesso que veio na minha bagagem. Porque é um peso tão leve, tão bonito e intenso, que eu faço questão de carregá-lo na mente e no coração, com muita gratidão a Deus e ao Pearl Jam, para o resto da minha vida.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mudança que gera mudança

Ontem eu li uma matéria no jornal, um assunto meio técnico, mas interessante, e me deparei com uma frase que tem tudo a ver com o que eu estou vivendo: “ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança, é preciso mudar.“(Elliot Gould). Nossa, eu mal consegui terminar de ler a matéria depois dessa frase. A carapuça serviu totalmente.

Mas por que mudar é, por vezes, tão doído? Mudanças geram mudanças, fato. E não, isso não é óbvio. É absolutamente possível mudar de emprego, de relacionamento, de idade, de cidade, até de país e continuar engessado as mesmas crenças e tolices. Simplesmente pelo fato de não permitir que tal mudança gere alguma outra em si próprio.

Talvez porque o novo desperta, de alguma forma, o medo. Afinal ele é incerto, inseguro. Talvez por isso não são todos os que aceitam se arriscar por aí. E por mais que eu seja adepta ao tentar, ao mudar, devo admitir que, no mínimo, respeito quem não se “joga” na vida. Ninguém disse que é simples ou fácil sair do que lhe é comum. Mudanças requerem decisões, complexas ou não, ainda assim são decisões. E só isso já envolve muita coisa.

Eu, particularmente, estou mudando. Ou tentando mudar. Especialmente alguns pré conceitos do que sempre me foi igual.Também estou tentando apoiar mudanças, grandes mudanças, daqueles que eu amo, mesmo elas me atingindo diretamente de forma dolorida. Eu estou tentando aceitar mudanças, o novo, o diferente, com mais boa vontade e menos anseio ou pré julgamento. Estou tentando mudar para gerar uma transformação real, algo completo e verdadeiro, bem aqui, dentro de mim. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sonhos devem ser realizados, e não explicados

“Não há nada como um sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã ". Essa frase do Victor Hugo é completa pra mim. Eu não acrescentaria uma palavra sequer. O encaixe dela é de uma plenitude estigante e absoluta. Especialmente agora que eu estou a pouco mais de um mês de realizar um dos maiores sonhos da minha vida.

Todos os que convivem comigo sabem que eu vou a 6 shows do Pearl Jam em novembro. E não, eu não vou justificar aqui a razão de ir a “tantos” shows. Só quem almeja algo parecido seria capaz de entender. Apesar de que entender sonhos é, no mínimo, contraditório e desnecessário. Sonhos devem ser realizados, e não explicados.

Talvez o meu entendimento a respeito de sonhos seja, apenas, um pouco diferente. Pra mim, realizar sonhos está muito mais relacionado ao viver, ao ser e ao sentir do que ao ter. Nessa situação, eu prefiro muito mais o abstrato ao concreto. E sim, eu já realizei um grande sonho concreto: comprei meu apartamento no início do ano e por isso eu posso afirmar que sonhos abstratos me fazem muito mais feliz.

Viajar, conhecer novas pessoas, novas culturas, ir a shows de suas bandas preferidas, ver o seu time de futebol ser campeão ao vivo,  experimentar algo diferente, reencontrar um abraço desejado, nada disso é palpável. Você apenas vive, senti. Um apartamento, um carro, uma fazenda, uma casa de praia, tudo isso você tem, você possui. E não estou dizendo que não são coisas bacanas de sonhar e alcançar, mas você não levará nada disso consigo. Simplesmente, não é algo prioritário pra mim.

Por isso, pra quem não entende ou julga os sonhos dos outros, eu sugiro: sonhe algo e realize. Viva essa realização e experimente essa sensação de plenitude, de alegria e prazer que parece não caber em você de tão grande que é. Todo mundo merece sentir isso ao menos uma vez na vida. E eu já estou sentindo. Mas eu sei que não é nada parecido com o que eu sentirei quando novembro chegar. Isso porque eu descobri que sonhar é muito bom, mas realizar sonhos é melhor ainda.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

De volta à esquina


Seria muito mais simples eu dizer que não sei ao certo a razão pela qual eu passei tanto tempo longe dessa esquina. Mas o principal motivo de eu ter chegado até aqui, desde a primeira letra, foi a sinceridade. A sinceridade com os meus sentimentos, com o meu momento e com o meu tempo. E foi por eles que eu dei uma pausa, mas estando certa de que o retorno não tardaria.

Isso porque escrever é uma necessidade inerente a mim. Minha vida está mais corrida, os afazeres só aumentam, as responsabilidades também, mas a escrita sempre terá o seu espaço, pois ela beira o vital. E por mais que eu não desejasse falar mais sobre certos sentimentos, eles também estão intrínsecos ao meu ser e seria hipocrisia ou, no mínimo, desnecessário, dizer que eles não voltarão à tona.

Acontece que eu estou mudando. As minhas perspectivas de vida estão mudando e isso, naturalmente, refletirá nos meus textos. Já faz um tempo que estou tentando exercitar o se permitir, o experimentar, o ousar mais, só que sem esquecer-se do se respeitar. E talvez, também, por isso eu esteja mais aberta. Aberta a novas sensações, momentos e sentimentos. É bem provável que a aproximação dos 30 anos tenha alguma coisa a ver com isso, mas acho que é um todo mesmo. E 2011 tem sido um ano muito generoso com esse “todo”.

Eu, finalmente, voltei a viver nesse ano. Eu já não passo apenas pela vida ou preencho o meu tempo tentando tampar um buraco abstrato como eu estava fazendo desde junho de 2009. Eu tive que voltar pra terapia, mexer na ferida, entender a “cura” como algo que se faz de dentro pra fora e fechar o ciclo. O que não significa que passou. Significa apenas que eu quero que passe, que eu estou facilitando as coisas pra Deus e pra o meu destino agir sem bloqueios.

Por isso é muito bom estar de volta a essa esquina. É muito bom perceber que, de alguma forma, a minha vida está apenas começando e que ela terá nessa ou numa próxima esquina, uma nova chance.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mila Maloca


Eu sempre gostei de cachorros. Costumo dizer que tenho duas grandes paixões: cachorros e crianças. Gosto de graça, gosto por nada, gosto não, amo. E alguns meses após Sávio morrer, dia 18 fará um ano, comecei a pensar em ter outro. Só que eu não queria projetar o amor que eu sentia por Sávio em outro animal. Não seria justo, Sávio esteve comigo por 16 anos. Por isso eu vinha amadurecendo devagar a idéia de criar outro, pois teria que ser de todo o meu coração.


Aí de repente a minha mãe surge com uma gata, Mila. Uma vira lata igual a Mimosa. Gata essa que já foi até tema de um texto meu no blog dos cronistas. E um detalhe: eu tenho alergia a gatos. Criei Mimosa de teimosa, mas eu espirro o tempo inteiro perto deles. Era para ser só um dia, depois ela arrumaria alguém para dar, e aí mais um dia, e só mais outro e pronto. Fiquei apaixonada.


Descobri que a minha alergia a gatos é muito pior do que eu pensava. Quando a unha de Mila ou os seus dentinhos afiados tocavam em mim, a minha pele reagia na hora. Ficava um caroço vermelhão que coçava sem parar. Passei dias sem dormir direito, mesmo com a porta fechada. Eu só espirrava, espirrava e espirrava. Meus olhos amanheciam como os de um lutador nocauteado (tudo bem, menos...). E os dias foram passando, meu corpo foi se acostumando e agora eu tenho espirrado pouco e o toque dela não me faz mais tanto mal.


Meus pais deixaram em minhas mãos a decisão de ficar ou não com Mila. Mas eu já não tinha escolha. Os três já estão abestalhados pela gata. Mila virou o centro das nossas atenções. Quem diria? Um gato. Logo eu que sou tão alucinada por cachorros, me rendi a um gato. E nesse período, pensando em escolher entre a minha saúde e ela, refleti sobre tanta coisa e aprendi algo inesperado.


A vida nos surpreende a cada instante. Especialmente com o que não nos é seguro. As oportunidades (sejam lá do que for) aparecem de diversas maneiras, e nem sempre de formas comuns, no tempo esperado ou exatamente como desejamos. E é preciso estar atento e muitas vezes se esforçar, se permitir para aproveitar o que está por vir.


Mila foi assim. O gato não é bem o tipo de animal que me encanta. De fato, eles não são parceiros, companheiros e lindos e maravilhosos como os cachorros, mas sim, eles têm seus encantos. Eu não fui até Mila, ela que veio até mim da forma que a vida se encarregou de trazer. Eu não a desejei. Eu tive que me esforçar pra ficar com ela, pois no início ela me fazia mal de verdade. E eu insisti um pouco mais. Não desisti na primeira dificuldade. Pensei nela novamente rejeitada, sei lá, não teria coragem, mas pensei em mim também. Em permitir a aproximação de algo que não era seguro ou que não era bem o que eu sempre quis ou gostei.


E hoje eu estou feliz. Estou apaixonada por ela. Não posso apertá-la, beijá-la como faço com cachorros, também não quero perder o meu nariz, mas ela me faz muito bem. Ela não vai latir, ela não vai correr na praia comigo, sua língua é áspera, não é bonita e fofa como a de um cachorro e ela não vai me olhar com aquele olhar que só os cães tem. Não posso querer isso dela. Ela é um gato e devo aprender a amá-la com o que ela pode me oferecer, do jeito dela, da forma dela.


Cachorros sempre serão meus preferidos. Mas Mila não entrou na minha vida à toa. Pode parecer bobagem, viagem da minha cabeça, mas vejo nessa estória toda uma oportunidade enorme de crescer, de aprender como pessoa e de aproveitar melhor o curso do rio da vida. Estou reconstruindo muitas idéias aqui dentro de mim. O tempo está passando e hoje eu consigo perceber as coisas de outra forma. Na verdade, eu estou aprendendo a olhar a vida de outra forma. Permitindo novos contextos, insistindo, tentando, buscando mais.


Pois é Mila , você chegou na hora certa e veio pra ficar...quanto ao amor, pode deixar sua maloca, que o tempo cuidará.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O último texto cronista - 7CC




Como é difícil dar adeus ao que nos faz bem!!

Eis o último texto do blog 7 cronistas crônicos que tive a honra de escrever representando todos os meus amigos cronistas.


É pra vocês...


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Nuda do nada


Hoje eu quebrei a minha rotina da maneira que eu mais gosto: com música. Meu professor de pilates e amigo, o “Serjão”, fez o convite, me deu o site da banda, eu ouvi, gostei e topei. Enfrentei a delícia do trânsito de Boa Viagem vindo de Joana Bezerra até Piedade, fui à terapia e de lá voltei até o Pina. Tudo isso só pra ver um show de uma banda que há 24 horas eu não sabia nem que existia.  E assim, sem nenhuma expectativa, me surpreendi.

O Nuda é uma banda boa, tem uma pegada bacana do rock, mas com uma mistura peculiar de arranjos bem elaborados, bem sonoros, limpos. Mas eu não tenho intenção, interesse ou capacidade de criticá-los seja da forma que for. O Nuda me cativou pela sensibilidade. Especialmente a do vocalista, especialmente quanto a se despir ao demonstrar insegurança, nervosismo e o medo em si. Eu já vi aquele filme antes.

Quando eu trabalhei com música, eu tive a oportunidade de participar de todo o processo que o Nuda viveu hoje. Quando o Cordel lançou o seu primeiro CD no Teatro do Parque, aquela sensibilidade também estava em Lirinha. De uma forma diferente, claro, são pessoas diferentes, mas lembro do jeito dele, de Emerson, de Nego, durante todo aquele dia que insistia em não anoitecer. Só quem ama a música e dela quer viver, sabe o que significa chegar até ali: a apresentação do “primeiro filho”. E não, eu não sei o que é isso, mas juro que consigo sentir.

Cada pessoa carrega um sonho dentro de si. E cada um sabe as dores que sente para chegar até ali. E pra mim, o músico é um profissional especialista nisso. Na descrença dos outros, até mesmo de quem se ama, no julgamento, nas omissões, na solidão. E não de repente tudo passa a ter sentido, o que era abstrato torna-se concreto, e o que antes precisava de resposta, de justificativa, passa a não precisar mais. A música por si só é a resposta para nenhuma das alternativas anteriores.

Isso tudo eu aprendi essa noite. Ou me lembrei, ou conclui, pouco importa. O Nuda despertou isso. Essa sensibilidade musical que tanto me cativa. Que só me faz ter a certeza que escolhi estar no lugar certo: na platéia. Apenas admirando e torcendo para que, seja como for, o amor à música seja sempre maior. Até porque, amar nunca é demais, amarénenhuma.

terça-feira, 7 de junho de 2011

É mesmo impossível ser feliz sozinho?


Os filmes, as músicas, as novelas, os livros, todos nos conduzem a acreditar que para sermos realmente felizes e realizados na vida temos que ter um par. O solteiro muitas vezes é visto como o solitário, o carente por estar sozinho ou qualquer coisa parecida. E eu posso afirmar isso com certa propriedade. Isso porque virou moda entre alguns amigos e familiares a mania de querer arrumar alguém pra mim.

Eu adoro comédia romântica. Não vou mentir, gosto mesmo. E sim, elas me fazem chorar e acreditar por alguns instantes em príncipes encantados lindos e charmosos. Só que eu enxergo algo além de seus finais felizes. Observe: tente lembrar-se do último filme desse gênero que você assistiu. Ele (o moçinho) ou ela (a moçinha) programou a maneira como se conheceriam ou articularam como seria o primeiro encontro como quem programa uma pipoca no microondas? Não, creio que não. Isso porque o acaso é que fascina (e dá bilheteria). Se tudo fosse metodicamente programado, não teria graça (nem expectadores).

De alguma forma a vida também é assim. Eu realmente acredito que relacionamentos amorosos não se procuram ou programam. Eles são achados, eles simplesmente acontecem. E quem disse que eu quero viver um grande amor agora? Não queridos, eu não quero. Ou melhor, pode até acontecer, claro que pode, mas não procuro o pacote completo: marido + casa + filho. Na verdade não procuro nada, só me sinto livre para ser achada. Eu quero mesmo é aproveitar os momentos, viver as oportunidades e não sentir receio de me entregar às sensações que eles poderão me causar. Quem sabe assim, como quem não quer nada, o amor se lembra de recomeçar?

Mas independente disso, eu estou feliz, ou melhor, eu sou feliz. E sozinha. E solteira. Desculpem-me o Tom e a sua poética e sonora wave, mas eu tenho que discordar de vocês: não acho impossível ser feliz sozinho! Para isso, basta gostar de si mesmo, muitas vezes da solidão da sua própria companhia. Basta escolher a maneira mais positiva de encarar as circunstâncias dos caminhos percorridos e estar verdadeiramente aberto para sentir a vida, sozinho ou acompanhado.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Por amor e por amigo



Olhos bem azuis. Pele branca, muito branca. Cabelos castanhos. Usava um óculos de mergulho que não tirava para nada. No máximo um metro e meio de altura. E como falava. E mentia. Até hoje não tenho certeza se era esse o seu nome, mas apresentou-se como Mateo.

Foi na praia do Gunga, em Alagoas, que eu e minhas amigas conhecemos o Mateo, o Antonio e sua irmã Nina, com 8, 11 e 7 anos, respectivamente. O primeiro espanhol, mas morava há tempos em Lisboa, e os irmãos, portugueses. De pronto me interessei em ser amiga deles. Primeiro porque adoro conversar com crianças, depois por serem de Portugal, onde minha irmã mora atualmente.

Mateo destacou-se imediatamente. Ele mergulhava e retornava ao meu lado, na minha frente, nas minhas pernas. Falava rápido, sorria por tudo. E mentia. Ele meu deu vários nomes, várias idades, várias nacionalidades. E numa tentativa para me convencer, ele até arriscou outro idioma, usou outro sotaque. Mentiu! Antonio, que era calado e observador, com riso nos lábios dizia: “Mateo, estás a mentir”. E o pior é que eu acreditava no menino. Como dizemos em Recife, ele me colocou “na roda”.

Num certo momento, Mateo me disse que o Antonio estava “a gostar de mim”. Antonio ficou desconcertado. E eu respondi que também gostava do Antonio, e dele – Mateo -, e da Nina. Aí lá vem o Mateo: “gostas por amor ou por amigo?”. E eu respondi “por amor e por amigo”.

Ele não se convenceu com a minha resposta. Eu já estava preparada para ele me encher de questionamentos quando um siri beliscou uma mulher que estava ao nosso lado. Ao ver a reação dela, os três saíram da água no mesmo instante. E eu e minha amigas ficamos no mar a observá-los.

Naquela manhã passei a entender um pouco melhor o mundo deles, das crianças. A separação dos sentimentos. Ou é amor ou é amizade. Porém, acho que eles não são os únicos a pensarem assim. Nós adultos também procuramos definições, classificações para os sentimentos. Para os nossos e os dos outros, o que é ainda pior. Sinceramente, para mim não importa se é “por amor ou por amigo”, pois ambos os sentimentos, se verdadeiros, valem a pena ser sentidos e vividos.


De ontem pra hoje


Ontem foi quarta-feira e a primeira em mais de um ano que eu não publico um texto. Isso porque era o meu dia de postar nos 7 Cronistas Crônicos. E talvez por isso eu tenha sentido ainda mais a falta dele. Sei lá....talvez apego ou somente saudade de algo que me fazia tão bem.

Pensando nisso, decidi homenageá-lo aqui com a publicação de textos que escrevi por lá e que se tornaram queridos pra mim. Vou alternando novas escritas com essas antigas. Assim como a vida deve ser: trazendo o melhor do ontem para somar com o hoje, na esperança de alcançar um amanhã ainda melhor.

sábado, 21 de maio de 2011

Para sempre cronista




Eu acho que quase tudo nessa vida tem início, meio e fim. Há situações (ou relações) que pulam a etapa de um começo de ciclo e parecem, de imediato, já estarem na metade do caminho. Assim como existem outras que finalizam durante a trajetória, como uma rua sem saída ou um meio sem final. Ou não. Talvez elas apenas estejam como tinha que ser.

O blog 7 Cronistas Crônicos acabou. E é com muita tristeza que eu escrevo isso nesta esquina. Não sei se ele terminou muito cedo, na hora certa ou tarde demais. As razões só cabem a nós, mas cada um dos cronistas deve sentir esse fim de formas distintas. Pra mim, é um relacionamento que terminou durante uma crise que poderia ser superada. Entretanto, nós somos sete pessoas e não apenas dois. Por mais que a diferença fosse uma de nossas principais características, ela tem suas consequências.

O problema, pra mim, é que além de sentir a perda da escrita coletiva, sinto pela perda do convívio, mesmo que virtual, com amigos. Especialmente aqueles que se tornaram referências como Gustavo, Rafael e Guilhoto. Eu aprendi muito com cada um ali, mas ele três são importantes demais. Eles escrevem com o coração. Eles são apaixonados pelo ato de escrever e assumem isso com textos despidos de qualquer julgamento. Não tinha como eu não me identificar.

Um ano, um mês e dezoito dias. Tão curto e ao mesmo tempo tão intenso, tão verdadeiro. Os 7CC já fazem parte da história da minha vida. Por tudo que representou pra mim. Pelo estímulo à leitura, pelo resgate do prazer de ler e escrever, pela troca, pela soma, pelo dividir. Da equipe que começou o blog, só falta eu conhecer pessoalmente o Rafa. Um simples detalhe, já que nos falamos sempre e estamos com data prevista para o abraço de verdade. É que a nossa amizade não quer ser apenas virtual.

Eu sabia que a blogosfera era grande demais e que talvez eu não encontrasse parceiros com os quais eu me identificasse tanto como aconteceu com alguns deles. E isso me aflingiu. Se fosse só escrever, eu escreveria aqui no meu blog, como continuarei. Mas acho que me acostumei com a escrita coletiva e não queria parar. Foi aí que eu percebi, através de emails trocados entre nós, que alguns ainda resistem à separação como eu. Parece que esse ciclo, de alguma forma, ainda não chegou ao fim. Ou não. Talvez seja apenas o começo de um novo.

sábado, 7 de maio de 2011

Gol contra ainda é gol


Eu morro de pena de jogador de futebol que faz gol contra. Exceto os que fazem a favor do meu Sport. Tá bem, calma, eu estou brincando. Eu comemoro se for pelo meu time sim, mas ainda assim eu sinto pelo atleta. Um gol contra é colaborar com o adversário, é andar pra trás, é fragilizar a equipe e a torcida que estão ao seu lado. Porém, muitas vezes, é o erro que conduz o acerto. E a vitória final.

Ninguém faz gol contra querendo fazer. O cara erra tentando acertar, ele só visa defender sua camisa, seu escudo. E erra. Eu costumo ficar viajando na decepção, no medo, na tristeza que esses caras sentem ao cometer o fatídico erro. Não deve ser nada fácil lidar com isso. Mas a profissão, as posições que eles escolheram pra jogar lhes colocam em tal risco. É uma escolha.

Eu, particularmente, já fiz vários gols contras nessa vida. Eu só queria acertar, eu só queria defender, lutar por quem eu amava e fragilizei quem torcia por mim. Eu andei pra trás em muitos momentos, decepcionei a mim mesma e tive medo e tristeza. Entretanto, nunca dei a partida por vencida ou perdi por WO. Eu compareci ao jogo e encarei as conseqüências da posição que escolhi.

Hoje, eu só assisto esses gols contras do passado para não cometer os mesmos erros no presente e, conseqüentemente, no futuro. Só que cada um tem uma forma de jogar. Alguns não agüentam a pressão e se isolam, somem, pedem demissão ou se aposentam. Outros pedem pra jogar, encaram a imprensa, a torcida e assumem seus erros. Sem falsa modéstia, eu faço parte do time desses últimos jogadores.

Meus gols contra me nortearam a jogar de outra forma. A ter mais cuidado na defesa, a entender que nem sempre é possível se defender com jogada de ataque. A minha bola não está mais recuada. O juiz já apitou e eu estou no meio do campo. Não vou mais voltar atrás. O gol que vai me levar a virar esse jogo está lá na frente. E é pra lá que eu vou, rumo ao hexa...ops, desculpem, rumo à vitória.
  

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Uma nova relação



A música exerce um poder de fascínio encantador entre as pessoas. Pode-se não entender nada da letra nem ter conhecimento algum sobre cifras, notas ou acordes e ainda assim ser apaixonado por uma canção. E eu sempre quis sentir essa sensação mais de perto, ou melhor, exercer a provocação desse sentir. Não, eu nunca pensei em ser uma rock star, eu só queria mesmo era aprender a tocar violão.

Meu pai costumava lamentar não ter tido condições de colocar eu e minha irmã para aprendermos a tocar um instrumento quando crianças. Essa realidade era bem longe da gente. Comprar um violão então, nem pensar. Mas acho que tá chegando o dia, pai. Isso porque ele já está aqui, bem ao meu lado. Segunda-feira eu trouxe ele pra casa e sim, ele é muito, muito lindo...foi amor à primeira vista.  Saí da loja com um sorriso do canto a outro.  E sábado é o dia : minha primeira aula de fato.

Hoje foi outra etapa da preparação: eu cortei minhas unhas. Deixei-as tão curtas como só deixo quando quebram, mas fui feliz da vida para o salão. Tudo bem, eu sei que terei calos e que vai me faltar a paciência diversas vezes também. Mas eu quero muito aprender a tocar, de verdade. Vou me esforçar pra tirar toda parte chata de letra. Eu estou pensando assim: da mesma forma que eu me dediquei aos estudos na facul e depois para concursos – ambos meio que por obrigação - , eu quero me dedicar e estudar o violão, mas agora só por prazer.

Aprender a tocar as músicas do Pearl Jam é uma meta, é o alvo, é o sonho. Mas quero embalar os sábados à noite lá de casa com alegria. Quero tocar Chico Buarque pro meu pai, Clara Nunes pra minha mãe, Raul Seixas pra minha tia, Legião pra minha irmã e talvez até Leandro e Leonardo pra minha avó. Coragem! No fim das contas, eu só quero mesmo realizar esse desejo tão antigo que estava adormecido esperando a oportunidade pra despertar. Bem, chegou a hora de acordar, ou melhor, chegou a hora de tocar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Chegadas e despedidas

Eu adoro observar o comportamento das pessoas nos aeroportos. Não é tão comum eu ir até lá, então quando vou tento chegar um pouco antes do horário apenas para observar. No português arcaico, ao se despedirem, as pessoas diziam: "Encomendo-vos a Deus". Daí a expressão “adeus” numa partida. E eu não gosto de dizer adeus. Prefiro o “bem vindo”. Por isso prefiro as chegadas às despedidas.

Essa semana eu fui pegar a minha irmã no aeroporto e o vôo atrasou. Aí eu decidi sentar-me perto do desembarque e fiquei lá, rindo e me emocionando sozinha. São tão bonitas as chegadas, os reencontros. É um tipo de alegria estampada nos rostos que misturam lágrimas e sorrisos e isso me encanta. Não há como não se contagiar. Especialmente com o encontro de casais e de pais e filhos, ainda mais quando crianças.

As partidas também envolvem lágrimas, mas normalmente são de dor. A dor da saudade, do incerto, do tempo, a dor da distância. Por isso não gosto de levar ninguém ao aeroporto. Eu só gosto de buscar. O abraço da despedida é doído de soltar. Nem sempre sabemos quando acontecerá de novo. E isso machuca. E eu já me machuquei demais com partidas contra a minha vontade, temporárias e eternas, definitivamente não gosto de despedidas.

Chegar e partir faz parte da vida, eu sei. E muitas vezes uma partida pode ser, ao mesmo tempo, uma chegada também. Apenas num outro lugar, em outros braços, para novas oportunidades. Pois é, talvez seja melhor encarar as idas e vindas de pessoas, estórias e momentos como um ciclo natural da vida. Até porque, no fim das contas, o melhor mesmo é aproveitar enquanto tudo o que amamos ( seja o que ou quem for) não tem que partir.

domingo, 10 de abril de 2011

A balança dos 30

Todo mundo sabe que vivemos numa sociedade de consumo que costuma se apresentar pelo que tem e relaciona esse mesmo ter ao poder. Pois bem, por mais comum e até piegas que esse discurso possa ser, infelizmente, ele é a pura verdade. E existe até uma idade imposta, em alguns aspectos, para isso: os 30 anos.

“O que você tem aos 30 anos?” Em minha opinião, essa pergunta (realizada normalmente de outra forma) já surge a espera de uma resposta concreta. Ou melhor, de bens concretos, concordam? Casa, carro, emprego estável ou o próprio negócio e blá blá blá. É, ela espera por isso sim. Mas para as mulheres, essa pergunta vem, além disso, com um peso social extra como brinde. O que você tem aos 30 anos espera a seguinte resposta: sou casada e tenho filhos.

O pior não é a expectativa da sociedade por isso. Acho muito mais complicado a auto expectativa, o desespero, a frustração de muitas mulheres por tal situação, ou melhor, pela falta dela. Eu penso que os 30 anos trazem consigo uma bagagem de maturidade interessante para quem soube viver, de fato, esse período. Tempo suficiente para tentar entender que o bacana mesmo é olhar para trás e colecionar o que viveu, o que sentiu, o que construiu na memória e no coração sem um período determinado para isso.

E sim, eu quero um dia casar (não na igreja) e ter filhos. Porém, antes eu prefiro  construir uma relação bacana, amar de verdade e aí sim ter uma família. Mas por que colocar isso como um peso para aparecer na minha balança quando eu completar 30 anos? Por que caminhar para essa idade com aflição por não ter isso?

Pra mim, a balança dos 30 deve apresentar números que correspondam a sorrisos, a uma maior liberdade para se expressar e viver sem frescuras ou as inseguranças tolas dos 20. Acho que os 30 anos trazem consigo a capacidade de curtir novas (ou iguais) sensações da vida com outras perspectivas e experimentar os benefícios de uma maturidade juvenil, tudo isso com ou sem casa, carro, marido ou filhos.

Definitivamente, acho que vale muito mais a pena ser do que ter. Por isso, vivo os últimos seis meses antes dos 30 com a leveza de quem observa um horizonte à beira mar e acredita na beleza de tantas coisas boas que essa balança apresenta no porvir... 

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sexo e chocolate


Eu sempre ouvi falar que chocolate é afrodisíaco. E eu adoro chocolate. Nossa...como eu gosto dele!! Porém, eu nunca percebi uma reação diferente em mim além do simples prazer de comê-lo. Agora tem uma coisa que eu preciso admitir: ele é um grande aliado contra o humor da TPM, ou melhor, o mau humor causado por ela. E mais: a sua maneira, ele supre a falta de muitas coisas na vida de uma mulher, dentre elas o sexo.

Esse último mês eu percebi claramente que estava na TPM. Eu não costumo sentir cólicas ou outros sintomas da menstruação. Tudo pra mim é muito natural, sem dores ou coisas parecidas. Mas esse mês eu entrei em crise, numa fase de vício louco: ou eu comia chocolate ou eu morria.

Juro,eu não estou exagerando. Tá bem, tá bem, estou sim, mas só um pouco. É sério, foi uma semana comendo chocolate sem parar. De segunda à sexta-feira, eu comi 4 barras de chocolates praticamente sozinha. Há um posto de gasolina em Boa Viagem que vende uma cocada deliciosa, com um recheio que parece chocolate, uma perdição. Ou eu parava todos os dias nesse posto ou eu morria. Já entendeu que nesse texto o exagero é permitido não é? Pois bem, além das barras, eu devo ter comido umas 7 cocadas.

Foi aí que conversando sobre essa compulsão repentina com a minha irmã, eu mesma concluí que, além da TPM, devia ser a falta de sexo. É que eu li em algum lugar que o chocolate ajuda nessas “crises de abstinência”. E o argumento foi bem convincente: ele estimula a liberação do hormônio serotonina, um dos responsáveis pela sensação de prazer no ser humano. Completamente explicado. Satisfeitíssima com a definição. E tome chocolate!

Como eu jamais pagaria por sexo, eu pago feliz da vida pelo chocolate. Como o sexo casual não é muito a minha praia e o chocolate, em qualquer ocasião, faz totalmente a minha cabeça , eu fico, por enquanto, com a segunda opção. Sem maiores comparações ou competições, o melhor mesmo é juntar as duas opções, o sexo e o chocolate, e ao mesmo tempo também. Aí sim, não tem TPM certa para mudar o humor de uma mulher, só se for pra melhor.
  

sexta-feira, 1 de abril de 2011

De volta pra casa


Hoje, o blog 7 cronistas crônicos completa um ano . Quando eu recebi o convite para participar desse blog, eu tinha apenas 3 meses de Na próxima esquina. Foi uma surpresa e uma alegria enorme pra mim. Primeiro porque eu fui convidada para participar do projeto pelo meu blogueiro preferido, o Gustavo, e depois porque escrever é um dos meus maiores prazeres da vida.

Acontece que, como o próprio nome diz, o blog trata-se do gênero crônica. Ou seja, o mesmo tipo de escrita que desenvolvo aqui no meu blog. E mais, eu não sou profissional. Não sou jornalista, não estou acostumada a produzir textos diariamente. Por isso, o 7CC acabou ganhando mais a minha atenção. Eu tinha (e tenho) um compromisso: todas as quartas eu “passo” por lá. E devo (e quero) passar com vontade de caminhar.

Porém, a partir de hoje o 7CC decidiu experimentar um novo gênero, inclusive com dois novos colaboradores. Hoje, 1 de abril, a nossa verdade é o conto. Será uma única história por semana contada em oito capítulos, cada um com dois parágrafos. Continuo escrevendo nas quartas e, pelo ensaio que fizemos antes de começar as publicações em si, esse novo formato promete. Eu estou empolgadíssima.

Beira o mágico essa falta de controle de algo que é seu e ao mesmo tempo é nosso, no caso dos atuais 7 cronistas. Uma história que parte do imaginário de uma pessoa e vai tomando rumos diversos em toda a trama através de uma perspectiva individual, mas que terá uma visão coletiva. Recomendo a todos acompanharem. Acredito de verdade que valerá a pena.

E assim, prometo aos meus poucos leitores deste espaço, que voltarei a ser mais assídua a essa que é a minha casa virtual e que através dela construí amizades sólidas com vizinhos dessa blogosfera que tanto me encanta. Os temas dedicados às crônicas dos 7CC virão para cá, pois apesar da paixão avassaladora pelo conto, a crônica me dá uma sensação de liberdade enquanto ser. Mas no fim das contas, é tudo pela escrita, tudo pela literatura, pelo grande amor que sinto a arte de escrever.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um ano de coração aberto...

É muito complicado não escrever sobre o que se sente. Isso pra mim, claro, que não sou profissional. Separar a escrita  do sentimento não é das tarefas mais fáceis. Por mais que os dias possam ser repletos de bons acontecimentos e novidades (mas convenhamos, quem tem dias sempre desse jeito?), ainda assim é difícil escrever sem sentir. E por mais que eu tente não falar mais sobre a morte de Davi, ela ainda me pertuba, me atormenta e me machuca.

Eu já perdi amigos, parentes bem próximos, outros nem tanto, cachorros amados e hoje consigo perceber uma diferença enorme entre tais perdas. Sinto que quando você perde um pai, uma mãe, um filho, eles são insubstituíveis. Assim você pode sofrer tranquilamente que ninguém vai te dizer que isso terá que ter um fim porque sua vida tem que continuar e você logo encontrará outro pai, outra mãe ou outro filho. Quando você perde um namorado, um noivo, um marido (ou o feminino de cada um), especialmente quando se ainda é jovem, aí sim, você terá que continuar.

Não que eu queira sofrer, não que eu goste disso, mas eu simplesmente não consigo não pensar diariamente nele. Davi é sempre o meu primeiro e último pensamento do dia. E juro, pela minha mãe, não sei mais o que fazer. Eu converso comigo mesma, eu evito canções, eu não vejo fotos dele há meses, não leio mais suas cartas pelo mesmo período, mas o que eu faço com o que eu sinto? Com a tristeza maquiada que eu pinto.

Não sei se estou fechada para novos relacionamentos, não posso afirmar isso, seria muito cômodo, mas eu não consegui até agora me interessar de verdade por ninguém. Apareceram oportunidades, pessoas bacanas, mas eu simplesmente não consigo. Não consigo olhar pra frente e me imaginar com alguém. Quando eu vejo, eu estou planejando as coisas e me imaginando sozinha. O pior é que isso é algo muito involuntário, muito natural. Mas não é bacana, sei que não é.

Eu continuo segura a não desanimar nessa caminhada. A respeitar meus momentos e continuar. Mas desde sempre a escrita foi muito importante na minha recuperação e não merece uma camuflagem minha. É por isso que, mesmo agora, completando um ano da Próxima Esquina, eu tinha que ser verdadeira comigo, e com ela.

Mas não por acaso esse blog tem esse nome. E lá vou eu, com fé e esperança, com o coração sempre aberto e acreditando nas boas surpresas que hão de surgir nas próximas esquinas da vida.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A procura e o encontro - 7CC

Texto sobre uma estória que aconteceu comigo terça-feira. Passei o dia procurando um tio que nunca vi nem ouvi falar, mas que nunca foi esquecido pela minha avó, sua tia. Tudo que eu queria era realizar o desejo dela. E não é que eu consegui...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Meu passado virtual

Eu nunca pensei que deletar e-mails fosse tão difícil. De repente recebo uma bronca do gmail dizendo que devo resolver isso logo. Tudo bem, Sr. Gmail, problema nenhum. Opa! Eu disse tudo bem? Não, não teve nada de tudo bem. Ou melhor, até que teve: eu revi a minha história virtualmente.

A primeira vez que eu tive contato com a internet foi no ano 2000. Lembro exatamente deste dia, nem sei ao certo a razão de tanta lembrança, mas lembro quase que detalhadamente. Eu trabalhava no Rec Beat Produções e jamais poderia assessorar a carreira de artistas como o Mundo Livre S/A, Naná Vasconcelos e Cordel do Fogo Encantando sem saber usar a web. E eu não sabia, mas eu menti. Disse que sim, que sabia. Sorte a minha ter tido a querida da Adriana para me ensinar.

A primeira conta que eu fiz era pazeamorerock@bol.com.br, mais adolescente impossível né? E não é que fiquei com esse email por anos?! Fiquei até criar a minha conta atual, se não estou enganada em 2005. E só depois dessa bronca do Sr. Gmail que olhei para trás através de um e-mail. Eu voltei virtualmente no tempo pela primeira vez.

O problema é que eu costumo apagar bobagens. Por isso foi tão difícil escolher o que apagar. Tantos e-mails sobre encontros e despedidas, dores, superação, amizade, perdão e alegrias. Encontrei e-mails de amigos que já se foram, outros que não vejo há anos, da época em que Dani morou comigo, sobre a ida da minha irmã para Lisboa, da minha época de vestibulanda, acadêmica, estagiária, concurseira e profissional, e-mails sobre a morte de Davi e de Sávio, inclusive palavras nunca ditas pessoalmente, apenas por ali.

 Não contive a emoção ao ler vários deles. Foi bem aquela situação de passar um filme na cabeça. E é tão bacana ter uma passado gostoso de lembrar, bem como relembrar situações difíceis e perceber como consegui superar. Também foi um alívio saber que tenho esses momentos registrados em outro lugar além da minha memória, muitas vezes falha e pouco seletiva. Continuo com a caixa de entrada quase lotada. Ainda estou em 2006, quase que lendo e-mail por e-mail. Deliciando-me com momentos bons (e outros não tão bons assim) que ficaram para trás, mas cujos rastros eu não esquecerei jamais.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Uma conquista que não tem preço


Hoje, finalmente hoje, eu posso afirmar: eu tenho uma casa própria, comprei o meu “ap”. Agora o documento está no meu nome, todas as chaves estão comigo e sim, ele é todinho meu! Eu sempre ouvi colegas descreverem a emoção dessa conquista, especialmente aqueles que, como eu, financiaram esse sonho em longos 30 anos. Porém, em nenhum dos meus sonhos – acordada ou dormindo – eu cheguei perto de sentir o quão grandioso isso é. É uma sensação indescritível, de alívio, de olhar pra trás e ver que todo o caminho que eu percorri valeu a pena. Sinto que hoje é o amanhã que ontem eu esperei chegar.

Para algumas pessoas isso pode ser tão comum, até mesmo banal. Isso porque há quem ganhe carros e apartamentos como quem ganha um perfume no aniversário. Só que pra mim isso é muito mais do que a compra de um apartamento, é um sonho mesmo realizado. Um sonho de pelo menos 20 anos. Eu e minha irmã sofríamos quando tínhamos que nos mudar. Acho que não moramos em menos de 10 prédios durante a nossa infãncia. E naquela época não tinha celular, orkut, email para falar com os “amiguinhos”. A gente sempre tinha que recomeçar.

Além disso, tinha a minha mãe e os seus sonhos que acabavam sendo os meus também. Ela sonhava em ter uma casa que pudesse quebrar a parede, aumentar a sala, fazer uma janela e etc, só que por não ser o canto dela, nunca pôde fazer. E eu sonhava em realizar isso para ela um dia. E esse dia chegou porque o que é meu é dela, e é do meu pai e da minha irmã. No dia da assinatura do contrato na Caixa, eu sabia que meus pais não poderiam ir porque era em horário comercial. E aí chega meu pai, ele chegou mais tarde no santíssimo e sagrado futebol dele e foi lá só para estar comigo naquele momento e tirar fotos. Foi uma delícia.

Infelizmente eu não vou poder ir morar no apartamento agora. Infelizmente não porque tudo tem um tempo certo para acontecer. É que além do financiamento, eu tive que tirar um empréstimo para a entrada e não tenho condições de segurar a onda dos dois. Vou ter que esperar pelo menos um ano e meio, mas tá tudo certo. E o susto inicial de uma dívida que vai durar 30 anos já passou. Depois que eu pagar a primeira parcela só serão 29 anos e 11 meses, quase a minha idade. Moleza!

E essa conquista eu devo aos meus pais e a minha irmã. Aos meus pais pelos “nãos” conversados que eles me deram, mesmo machucando-os por dentro. Eles me fizeram aprender a dar valor ao trabalho, à vida, à luta diária pelo pão de cada dia e às conquistas suadas. Ao meu pai, em especial, que resolveu tudo pra mim e tem me ajudado absurdamente. E minha irmã pela ajuda com o seu FGTS, pelo incentivo, pelo apoio e sonhos sonhados juntas.

Essa é uma conquista que não é o cartão mastercard, mas que também não tem preço
 

domingo, 23 de janeiro de 2011

Do peso à leveza

Eu tenho todos os defeitos do mundo, mas algo que eu penso que sei fazer é reconhecer os meus erros. Acho muito mais válido ouvir, entender, pedir desculpas e continuar. Por mais que existam justificativas para quase tudo, prefiro tentar simplificar as coisas exercitando a humildade. Mas nem sempre isso é fácil. Essa semana, durante uma conversa que naturalmente foi se tornando séria, perguntei para uma amiga se eu era uma pessoa densa, e ela disse: “você é densa, mesmo se esforçando para não ser”.

Aquilo foi como uma tapa no meu rosto. E de mão cheia. Doeu muito, muito mais até do que ela, com as suas melhores intenções, pode imaginar. Mas eu preferi não contra argumentar, apenas aceitar e tentar entender o que ela queria dizer. Ainda estou em processo de digestão, de análise disso tudo. Tenho até acordado de madrugada simplesmente para pensar, pensar e pensar.

Por mais que eu tenha levado muita porrada da vida, não posso fazer disso uma justificativa ou permitir que tais cicatrizes continuem pesando sobre mim. Eu adoraria saber onde colocar os pesos das dores que ainda carrego no peito, na mente, mas ainda não sei como me livrar deles.

A única certeza que eu tenho é que não, eu não sou uma pessoa pesada. Eu estou pesada. É diferente. E mais: eu não continuarei assim. Posso até nunca mais voltar a ser a Sandryne que eu sempre fui, mas quem sabe um dia eu serei uma Sandryne melhor.

E  eu vou buscar isso, ou melhor, eu já estou em busca disso. É um exercício, não? Preocupar-me menos com as coisas, deixar mais as coisas acontecerem, não querer resolver tudo por todos, não querer defender quem não precisa de defesa ou sabe se defender e não permitir que meu passado, que os erros do meu passado influam - ainda mais - negativamente no meu presente e no meu futuro.

E eu vou com toda fé, com toda determinação...e irei até o fim,  do peso à leveza. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O valor da vida - 7CC


Esqueci de colocar aqui no blog o link da crônica da semana passada publicada nos 7CC

O link abaixo é o texto de hoje: o valor da vida.

Nele eu falo sobre a tragédia das chuvas no Rio, mas no aspecto da valorização da vida. Foi o melhor que pude escrever sobre um tema que eu jamais gostaria de ter escrito.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Falando por mim...

Eu não sei ao certo o porquê, mas estou numa fase bem saudosa sem maiores motivos aparentes. Nas minhas leituras de blogues diários, encontrei o blog da Aldrêycka. Acho que nunca li um texto que falasse tanto por mim como o dela. Se ela não passou por algo igual ou parecido com o que eu passei, ela também carrega consigo uma dor de uma saudade que a fez ter tamanha sensibilidade para escrever algo tão bonito. Recomendo-a!

Me afogar em você

“É inacreditável a necessidade que eu tenho de te guardar intacto em minhas lembranças. Cada olhar, cada sorriso, cada gargalhada, tua voz... Tudo precisa estar empacotado à vacuo e muito bem guardado em minha memória.

Eu agora sei que te perdi. Perdi de vez e nunca mais vou poder ter tuas caras e bocas ou tua gargalhada desconsertada. Deve ser por esse motivo que eu alimento essa obsessão em te guardar intacto em mim. Tudo seu que eu tiver, guardo como puder. Momentos são escritos e gravados. Fotos, armazenadas. Sorrisos, memorizados. Momentos, congelados. Fatos, imortalizados. Seria até romântico se não soasse doentio.

A cada momento como esse, quando eu me afogo em você, percebo o quanto vai ser difícil seguir em frente e te deixar pra trás. Sinceramente, acho que isso nunca vai acontecer. Provavelmente por nunca termos o controle emocional de colocarmos um ponto final nisto tudo. Ou por nunca termos sido maduros o suficiente para enfim decidir alguma coisa. O que eu vejo são duas pessoas fugindo da forma que podem.

Sinceramente a realidade de nunca mais ter você, mais parece uma bolha de sabão enorme, prestes a estourar bem no meu rosto. E eu postergo isso ao máximo. Mas eu sei que uma hora ela vai estourar, e eu preciso estar preparada para isso.

Preciso parar de superestimar tudo isso. Preciso amadurecer. Mas eu trocaria tudo isso por 15min com você. Só mais uma vez te escutar, só mais uma vez rir com você e me aborrecer com seus momentos "desligado do mundo". Eu queria só mais uma vez tentar, e implorar para você não ficar com esses olhos de quem quer, mas não pode. Por que, ora bolas, quem sabe poderíamos ser tudo isso que cada um de nós julga impossível ser.

É dolorido me afogar em você. Me sufocar com tua ausência e me entorpecer com teu perfume. Mas é a forma que eu encontro de te deixar sempre vivo e próximo a mim em minhas lembranças. E a memória é o lugar mais próximo que eu consigo chegar até você. E o único lugar onde ninguém vai poder tirar você de mim - NUNCA.”


Aldrêycka Albuquerque