sábado, 26 de junho de 2010

Um ano


Um ano. Como uma vida pode ser tão transformada no período de um ano? Nesse mesmo período, há um ano, eu vivia meu último São João com Davi, nossos últimos fins de semana, nossos últimos abraços, nossos últimos beijos. O que eu teria dito a ele se eu soubesse que estávamos nos despedindo? O que eu teria feito ou o que eu não teria feito?

Mesmo sem eu e ele sabermos da aproximação do fim, Deus foi muito bom com a gente. Hoje eu percebo claramente que Ele nos permitiu uma despedida como tinha que ser. Eu e Davi vivemos, falamos e fizemos coisas antes nunca realizadas, ditas ou sentidas. Davi me disse frases como se realmente sentisse que estava indo embora. Lembro que na última vez que ouvi a sua voz, por telefone, ele falou: “Bom dia, minha linda. Hoje eu acordei com uma saudade tão grande que parece que não nos vemos há anos”. Nós tínhamos nos visto na noite anterior. E em torno de uma hora depois, ele se foi.

Uma vez li uma crônica do Carpinejar sobre a morte do filho de uma amiga. Ele disse que quando se perde alguém é como se aquele dia deixasse de existir e passássemos a ter apenas 364 dias no ano. Ele tem toda razão, mas infelizmente eu sinto algo além. Eu sinto Junho um mês morto, aguado, sem graça, insosso. Exceto pelo aniversário do meu cachorro, só ele mesmo para dar cor e vida a esse mês. Hoje sinto meu ano com apenas 11 meses.

Agora estou encerrando um ciclo. A partir de terça-feira eu saberei o que é passar cada data do ano sem ele. Não sei se será menos difícil, mas não será mais novo. E como sempre tento ver o lado bom das coisas, eu acho que isso já tornará os dias melhores. Eu não me entreguei até hoje, não serão esses próximos dias que me derrotarão. Continuarei me respeitando, tendo paciência comigo, mas seguindo. Também não pretendo escrever mais sobre ele, não com tanta freqüência, acho que será melhor assim.

Mas o fato é eterno. O que quer que eu escreva, para onde quer que eu vá, ele sempre estará dentro de mim, no melhor de mim...até o fim.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sem medos dos riscos de uma noite chuvosa





Chove em Recife. E muito. Nessa cidade temos apenas duas estações no ano: ou é verão ou é inverno. A primeira dura em torno de 9 meses, a segunda, quando muito, 3. Porém, vale salientar que o nosso inverno é de chuva, de muita chuva, mas de pouco frio. E esse é o meu primeiro inverno “motorizada”. Comprei João Francisco (meu carro) em agosto de 2008, mas comprei-o para o meu pai trabalhar. Só em janeiro desse ano quando as coisas melhoraram que João ficou comigo de vez.

Esse ano eu não esperei pelo ônibus por mais de duas horas, não levei banho de água suja nas calçadas nem saí de casa e voltei com a bolsa, as pernas e os pés todos molhados. Mas ontem foi um dia atípico. Mesmo de carro, cheguei em casa toda molhada. É que eu fiz algo que sempre imaginei que aconteceria comigo: dei carona a estranhos de uma parada de ônibus.

Eu já saí do trabalho pensando neles – usuários de ônibus - e não resisti. Abri a janela na primeira parada e chamei: “Quem quer carona para Boa Viagem, Piedade ou Candeias?” 6 pessoas se prontificaram. Caberiam 4, mas eu não ia barrar ninguém naquela situação nem tampouco teria blitz nas ruas. Eram 4 mulheres e 2 homens, acho que entre os 25 e 50 anos. “Apertei” todo mundo dentro do meu uno e fomos embora.

Corri um risco? Sim, corri, mas era fim de expediente, chovia torrencialmente e eu não podia voltar para casa com meu carro vazio como se eu não tivesse nada a ver com aquilo. Eu não pararia de madrugada, num local esquisito ou algo parecido e faria o mesmo. Não, eu não sou louca e sei que moro no Brasil. Mas eu precisava fazer a minha parte, só isso.

No fim das contas, eu é que ganhei porque fiz 6 novos amigos. Trocamos telefones, conversamos bastante e para ser democrática, ainda ofereci o meu porta CD para decidirmos juntos qual som ouviríamos. Ficamos entre Maria Rita e U2. Aí, para desempatar a votação e lembrar ainda mais da minha irmã, optei pelo U2, grande pedida! E lá fomos nós enfrentar um trânsito pesadíssimo, mas até que foi divertido. Como a faixa da esquerda estava “menos pior” e só dava para parar do mesmo lado, eu que descia do carro para levantar o banco para aqueles que ficavam pelo caminho... por isso cheguei em casa toda molhada.

Após mais de duas horas de viagem (em dias normais eu levo em torno de 30 minutos), cheguei em casa. Cansada, com fome, mas feliz. Não sabia se deveria contar para os meus pais a “aventura”, pois poderia levar o maior sermão e eu estava tão cansada. Mas aí tomei um banho, jantei e sutilmente fui contando. Nem fiquei tão surpresa assim, eu já devia supor: eles não só me apoiaram completamente como disseram que ambos já fizeram isso um dia. Está explicado porque não tenho medo dessas coisas. Tá no sangue, tá tudo certo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Salve o futebol!!


O poder de encantamento, de emoção e alegria que o futebol, que a seleção, que a Copa do Mundo proporciona me fascina. Vim trabalhar hoje observando as pessoas nos carros, nas paradas de ônibus, nos ônibus, nas ruas. Mesmo o mais leigo e mal informado ser da Terra saberia que a seleção brasileira joga hoje, todos estavam de verde e amarelo.

Não me venham com discursos político, religioso ou social agora. Não me venham com essa de que “eu não ganho nada com isso, eles é que estão enchendo o bolso de grana”. Por gentileza, retirem-se e levem consigo seus dogmas, suas frases feitas e amarguras para longe da gente. O Brasil entra em campo hoje, e não é em qualquer campo, é num campo de uma Copa do Mundo, e isso faz toda diferença.

Assumo hoje, escrevo esse texto antes do jogo, que independente do que acontecer no decorrer dessa Copa, tenho orgulho de ser brasileira sim. Sem romantismo idiota, ciente das qualidades e defeitos do meu país , mas tenho orgulho de morar “num país tropical abençoado por Deus” e de ser, não mais um dos 90, e sim um dos 180 milhões em ação que dá as mãos e está ligado numa só emoção, num só coração. “Pra frente, Brasil! Salve a seleção.”

sábado, 12 de junho de 2010

Para Sávio




Meu coração está em festa. Hoje, 12 de junho, é aniversário de Sávio. Meu cachorro amado, meu lang lang lindo, meu companheiro, meu amigo, meu amor. Como diz meu pai, “16 anos de praia”. Sávinho chegou lá em casa logo após a Copa de 94, com dois meses de vida e cabia na palma da minha mão. Foi amor à primeira lambida. Lembro de cada detalhe do dia em que o vi. Ele corria pela casa como um coelho fujão, mordia minha orelha, latia baixo e fininho..uma alegria linda de viver.

Quem me conhece sabe, ou melhor, tem noção do amor que eu sinto por esse cachorro. É que eu gosto tanto dele, mais tanto, que admito sem pudor algum: eu o amo muito mais do que vários parentes da minha família. Não discuto sentimento por animais, por cachorros. Só sabe o que é, verdadeiramente, que tem e dedica-se.

Desde 2006 ele está cego, diabético cardíaco e tem disfunção na tireóide. Tudo isso o tornou muito dependente, carente, além de necessitado de maiores cuidados e atenção. O "xodó" dele sempre foi minha mãe e eu, nessa ordem. Mas de uns anos para cá, inverteu. Ele não me deixa mais para nada. Antes do trabalho e na volta, minha dedicação é para ele. Há tempos não sei o que é uma noite completa de sono, só tomo banho com calma se ele estiver dentro do banheiro ou dormindo e às vezes tenho que sair da mesa e comer sentada no chão ao lado dele. É que, normalmente, ele só fica calmo comigo bem perto.

E tudo que eu faço ou deixo de fazer por ele ou com ele, é por amor, por muito amor. Sávio esteve comigo nos meus melhores e piores momentos. Nunca saiu do meu lado nem deixou que as lágrimas secassem sozinhas nas horas de tristeza e solidão. Lá estava ele lambendo meu rosto, deitando em meu colo, chamando a minha atenção. Mais da metade da minha vida eu passei ao seu lado. Savinho faz parte da minha história, é parte fundamental da minha casa.

É tempo de comemorar: é época de São João, é época de Copa do Mundo, é aniversário de Sávinho. E nós dois estamos no clima, eu de matuta e ele de torcedor. O meu amor incondicional, a minha fiel companhia, sem dúvida alguma, uma das minhas maiores alegria.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Copa do Mundo


Hoje começa 19º Copa do Mundo na África do Sul. Eu só me lembro mesmo da Copa de 1994 (EUA) para cá. Eu tinha 12 anos nessa edição e mesmo sendo a mais distante em tempo, ela é a mais recente na minha lembrança. Foi por causa dessa Copa que eu quis jogar futebol. Depois dela começei a jogar salão e assim foi por mais de dois anos. Desde então me apaixonei pelo futebol para nunca mais desapaixonar-me.

Até hoje só assisti ao vivo um único jogo da seleção brasileira, ano passado, há exatamente um ano. Brasil x Paraguai. Lembro que fui pegar Davi na faculdade e fomos escutando a resenha no rádio, empolgados com a nossa “primeira vez”. Pegamos um trânsito enorme e chegamos ao estádio 10 minutos antes de o juiz apitar o início do jogo. Em pouco tempo eu já era amiga de um pessoal e consegui um binóculo emprestado para ver o rosto dos jogadores algumas vezes. É que nós compramos o ingresso mais barato, estávamos no anel superior do Arruda, bemmm longe do campo. Mas isso pouco importava.

O estádio estava lotado, nós tomamos chuva, ficamos com fome, com sede e foi uma noite maravilhosa, inesquecível. O Brasil ganhou de virada por 2 x 1 com gols de Robinho e do Nilmar (ele que no mês anterior fizera aquele gol incrível pelo Internacional em cima do Corinthians). E a seleção terminava assim, em Recife, as eliminatórias da Copa em primeiro lugar.

Eu sei que esta Copa poderá soar diferente pra mim porque as últimas 3 eu assisti com Davi. A primeira, por sinal, bem no início de tudo e também porque ele amava esse evento. Mas nem tudo que é diferente é pior, não é mesmo? E a minha fé, o meu otimismo me levam a acreditar que esta Copa pode até tornar-se tão inesquecível pra mim como a de 1994
.
Além do mais, como disse Gustavo, “é hora de se empolgar... e esquecer de tudo: problemas, planos, passado, futuro, amores e desamores. É hora de máxima e total dedicação à minha maior e mais honesta paixão; ao prato principal do futebol: a Copa do Mundo!”. Assino embaixo. E que venha a Copa!!

sábado, 5 de junho de 2010

Welcome ( Bem Vindo)


Welcome (Bem Vindo) é um filme francês que foi uma grata surpresa de uma chuvosa sexta-feira à noite. O filme trata de jovem iraquiano, o Bilal (Firat Ayverdi ), que tenta chegar ilegalmente à Inglaterra para encontrar a namorada e torna-se um jogador de futebol do Manchester. Até aí, nada de tão incrível.

Escolhi-o na locadora porque li no verso do DVD a seguinte informação: “Ao ser lançado na França, o filme causou polêmica por discutir a pena de prisão de 5 anos e multa para quem ajudasse imigrantes na França. Após o bom recebimento do público, o Partido Socialista Francês redigiu um projeto de lei batizado de “Welcome”, título original do filme, em que propôs a supressão do chamado “delito de solidariedade””.

Por que um filme influenciaria a política francesa dessa forma? Agora tudo faz sentido. O filme é de uma sensibilidade tão profunda e ao mesmo tempo simples. É um drama, um filme de poucos sorrisos, de faces tristonhas, de clima frio e roupas escuras, mas com um sentido muito humano e de olhares que falam muito mais do que palavras.

Uma fala do filme que mexeu comigo foi quando o Simon (Vincent Lindon) – professor de natação que ajuda o Bilal a encontrar a namorada - numa conversa com sua ex-mulher (mulher essa que ele ainda ama), comenta que o jovem quer atravessar o canal da mancha a nado para encontrar a garota de sua vida em outro país, enquanto ele próprio não foi capaz de atravessar a rua para impedir que ela o deixasse.

Pra variar, chorei no final. Cheguei a pedir “por favor” para que o filme não terminasse como parecia que ia ser, mas, claro, não adiantou. É que quando o desfecho de um filme ou de um livro apresenta-se diferente do “final feliz” que eu gostaria, de imediato, fico triste. Depois de refletir um pouco, de voltar à realidade, eu fico bem. E não apenas aceito “os fins” de tantos personagens fictícios e reais como aprendo com eles, com os rumos que a vida é capaz de dar. E de como temos que seguir em frente, independente de tudo, e assim filmar ou escrever vários finais felizes em nossas vidas por aí.

terça-feira, 1 de junho de 2010

De frente e para o alto


Três vezes de costa para mim. Três vezes olhando para frente, para a estrada, para a árvore, para o mar. Três vezes de cabeça erguida e a cada momento com uma perspectiva diferente. Essas são algumas das características entre as três últimas fotografias dos meus três últimos posts. E para completar, sem nenhuma intenção pré estabelecida, escrevi sobre coragem, fé e paciência. Logo elas que requerem olhar pra frente, que requerem a cabeça erguida para vislumbrar o que virá.

Acho que meu subconsciente, inconsciente ou qualquer outra coisa parecida agiu de forma quase que independente no momento da escolha dessas fotos. De fato eu procuro relacionar a imagem com o texto no blog, mas o principal mesmo é o que a fotografia transmite para mim. É a sensibilidade na captação ou representação de algo que realmente importa e não – necessariamente - se o conteúdo textual está representado na foto.

Acontece que essa “coincidência” mexeu comigo. Eu fiquei um pouco pensativa por uns dias, meio que tentando entender o que aquela seqüencia de imagens queria me dizer. Isso porque por mais que eu escreva aqui o que EU penso, a MINHA visão da vida e etc, sempre procuro ampliar minhas observações e contextualizar de uma forma mais geral para atingir àqueles que compartilham das mesmas sensações ou apenas desse espaço comigo.

Porém, acho que dessa vez tanto as fotos como os textos foram escritos e escolhidos por mim, para mim. Até porque - nesse momento de transição -, depois de Deus, ninguém melhor do que eu para saber o que devo e para onde devo olhar, além do que preciso ler ou ouvir.