Olhos bem azuis. Pele branca, muito branca. Cabelos castanhos. Usava um óculos de mergulho que não tirava para nada. No máximo um metro e meio de altura. E como falava. E mentia. Até hoje não tenho certeza se era esse o seu nome, mas apresentou-se como Mateo.
Foi na praia do Gunga, em Alagoas, que eu e minhas amigas conhecemos o Mateo, o Antonio e sua irmã Nina, com 8, 11 e 7 anos, respectivamente. O primeiro espanhol, mas morava há tempos em Lisboa, e os irmãos, portugueses. De pronto me interessei em ser amiga deles. Primeiro porque adoro conversar com crianças, depois por serem de Portugal, onde minha irmã mora atualmente.
Mateo destacou-se imediatamente. Ele mergulhava e retornava ao meu lado, na minha frente, nas minhas pernas. Falava rápido, sorria por tudo. E mentia. Ele meu deu vários nomes, várias idades, várias nacionalidades. E numa tentativa para me convencer, ele até arriscou outro idioma, usou outro sotaque. Mentiu! Antonio, que era calado e observador, com riso nos lábios dizia: “Mateo, estás a mentir”. E o pior é que eu acreditava no menino. Como dizemos em Recife, ele me colocou “na roda”.
Num certo momento, Mateo me disse que o Antonio estava “a gostar de mim”. Antonio ficou desconcertado. E eu respondi que também gostava do Antonio, e dele – Mateo -, e da Nina. Aí lá vem o Mateo: “gostas por amor ou por amigo?”. E eu respondi “por amor e por amigo”.
Ele não se convenceu com a minha resposta. Eu já estava preparada para ele me encher de questionamentos quando um siri beliscou uma mulher que estava ao nosso lado. Ao ver a reação dela, os três saíram da água no mesmo instante. E eu e minha amigas ficamos no mar a observá-los.
Naquela manhã passei a entender um pouco melhor o mundo deles, das crianças. A separação dos sentimentos. Ou é amor ou é amizade. Porém, acho que eles não são os únicos a pensarem assim. Nós adultos também procuramos definições, classificações para os sentimentos. Para os nossos e os dos outros, o que é ainda pior. Sinceramente, para mim não importa se é “por amor ou por amigo”, pois ambos os sentimentos, se verdadeiros, valem a pena ser sentidos e vividos.