quinta-feira, 26 de maio de 2011

Por amor e por amigo



Olhos bem azuis. Pele branca, muito branca. Cabelos castanhos. Usava um óculos de mergulho que não tirava para nada. No máximo um metro e meio de altura. E como falava. E mentia. Até hoje não tenho certeza se era esse o seu nome, mas apresentou-se como Mateo.

Foi na praia do Gunga, em Alagoas, que eu e minhas amigas conhecemos o Mateo, o Antonio e sua irmã Nina, com 8, 11 e 7 anos, respectivamente. O primeiro espanhol, mas morava há tempos em Lisboa, e os irmãos, portugueses. De pronto me interessei em ser amiga deles. Primeiro porque adoro conversar com crianças, depois por serem de Portugal, onde minha irmã mora atualmente.

Mateo destacou-se imediatamente. Ele mergulhava e retornava ao meu lado, na minha frente, nas minhas pernas. Falava rápido, sorria por tudo. E mentia. Ele meu deu vários nomes, várias idades, várias nacionalidades. E numa tentativa para me convencer, ele até arriscou outro idioma, usou outro sotaque. Mentiu! Antonio, que era calado e observador, com riso nos lábios dizia: “Mateo, estás a mentir”. E o pior é que eu acreditava no menino. Como dizemos em Recife, ele me colocou “na roda”.

Num certo momento, Mateo me disse que o Antonio estava “a gostar de mim”. Antonio ficou desconcertado. E eu respondi que também gostava do Antonio, e dele – Mateo -, e da Nina. Aí lá vem o Mateo: “gostas por amor ou por amigo?”. E eu respondi “por amor e por amigo”.

Ele não se convenceu com a minha resposta. Eu já estava preparada para ele me encher de questionamentos quando um siri beliscou uma mulher que estava ao nosso lado. Ao ver a reação dela, os três saíram da água no mesmo instante. E eu e minha amigas ficamos no mar a observá-los.

Naquela manhã passei a entender um pouco melhor o mundo deles, das crianças. A separação dos sentimentos. Ou é amor ou é amizade. Porém, acho que eles não são os únicos a pensarem assim. Nós adultos também procuramos definições, classificações para os sentimentos. Para os nossos e os dos outros, o que é ainda pior. Sinceramente, para mim não importa se é “por amor ou por amigo”, pois ambos os sentimentos, se verdadeiros, valem a pena ser sentidos e vividos.


De ontem pra hoje


Ontem foi quarta-feira e a primeira em mais de um ano que eu não publico um texto. Isso porque era o meu dia de postar nos 7 Cronistas Crônicos. E talvez por isso eu tenha sentido ainda mais a falta dele. Sei lá....talvez apego ou somente saudade de algo que me fazia tão bem.

Pensando nisso, decidi homenageá-lo aqui com a publicação de textos que escrevi por lá e que se tornaram queridos pra mim. Vou alternando novas escritas com essas antigas. Assim como a vida deve ser: trazendo o melhor do ontem para somar com o hoje, na esperança de alcançar um amanhã ainda melhor.

sábado, 21 de maio de 2011

Para sempre cronista




Eu acho que quase tudo nessa vida tem início, meio e fim. Há situações (ou relações) que pulam a etapa de um começo de ciclo e parecem, de imediato, já estarem na metade do caminho. Assim como existem outras que finalizam durante a trajetória, como uma rua sem saída ou um meio sem final. Ou não. Talvez elas apenas estejam como tinha que ser.

O blog 7 Cronistas Crônicos acabou. E é com muita tristeza que eu escrevo isso nesta esquina. Não sei se ele terminou muito cedo, na hora certa ou tarde demais. As razões só cabem a nós, mas cada um dos cronistas deve sentir esse fim de formas distintas. Pra mim, é um relacionamento que terminou durante uma crise que poderia ser superada. Entretanto, nós somos sete pessoas e não apenas dois. Por mais que a diferença fosse uma de nossas principais características, ela tem suas consequências.

O problema, pra mim, é que além de sentir a perda da escrita coletiva, sinto pela perda do convívio, mesmo que virtual, com amigos. Especialmente aqueles que se tornaram referências como Gustavo, Rafael e Guilhoto. Eu aprendi muito com cada um ali, mas ele três são importantes demais. Eles escrevem com o coração. Eles são apaixonados pelo ato de escrever e assumem isso com textos despidos de qualquer julgamento. Não tinha como eu não me identificar.

Um ano, um mês e dezoito dias. Tão curto e ao mesmo tempo tão intenso, tão verdadeiro. Os 7CC já fazem parte da história da minha vida. Por tudo que representou pra mim. Pelo estímulo à leitura, pelo resgate do prazer de ler e escrever, pela troca, pela soma, pelo dividir. Da equipe que começou o blog, só falta eu conhecer pessoalmente o Rafa. Um simples detalhe, já que nos falamos sempre e estamos com data prevista para o abraço de verdade. É que a nossa amizade não quer ser apenas virtual.

Eu sabia que a blogosfera era grande demais e que talvez eu não encontrasse parceiros com os quais eu me identificasse tanto como aconteceu com alguns deles. E isso me aflingiu. Se fosse só escrever, eu escreveria aqui no meu blog, como continuarei. Mas acho que me acostumei com a escrita coletiva e não queria parar. Foi aí que eu percebi, através de emails trocados entre nós, que alguns ainda resistem à separação como eu. Parece que esse ciclo, de alguma forma, ainda não chegou ao fim. Ou não. Talvez seja apenas o começo de um novo.

sábado, 7 de maio de 2011

Gol contra ainda é gol


Eu morro de pena de jogador de futebol que faz gol contra. Exceto os que fazem a favor do meu Sport. Tá bem, calma, eu estou brincando. Eu comemoro se for pelo meu time sim, mas ainda assim eu sinto pelo atleta. Um gol contra é colaborar com o adversário, é andar pra trás, é fragilizar a equipe e a torcida que estão ao seu lado. Porém, muitas vezes, é o erro que conduz o acerto. E a vitória final.

Ninguém faz gol contra querendo fazer. O cara erra tentando acertar, ele só visa defender sua camisa, seu escudo. E erra. Eu costumo ficar viajando na decepção, no medo, na tristeza que esses caras sentem ao cometer o fatídico erro. Não deve ser nada fácil lidar com isso. Mas a profissão, as posições que eles escolheram pra jogar lhes colocam em tal risco. É uma escolha.

Eu, particularmente, já fiz vários gols contras nessa vida. Eu só queria acertar, eu só queria defender, lutar por quem eu amava e fragilizei quem torcia por mim. Eu andei pra trás em muitos momentos, decepcionei a mim mesma e tive medo e tristeza. Entretanto, nunca dei a partida por vencida ou perdi por WO. Eu compareci ao jogo e encarei as conseqüências da posição que escolhi.

Hoje, eu só assisto esses gols contras do passado para não cometer os mesmos erros no presente e, conseqüentemente, no futuro. Só que cada um tem uma forma de jogar. Alguns não agüentam a pressão e se isolam, somem, pedem demissão ou se aposentam. Outros pedem pra jogar, encaram a imprensa, a torcida e assumem seus erros. Sem falsa modéstia, eu faço parte do time desses últimos jogadores.

Meus gols contra me nortearam a jogar de outra forma. A ter mais cuidado na defesa, a entender que nem sempre é possível se defender com jogada de ataque. A minha bola não está mais recuada. O juiz já apitou e eu estou no meio do campo. Não vou mais voltar atrás. O gol que vai me levar a virar esse jogo está lá na frente. E é pra lá que eu vou, rumo ao hexa...ops, desculpem, rumo à vitória.