sábado, 27 de novembro de 2010

(Des)estabelecendo prazos




Desde cedo eu aprendi a estabelecer, a planejar, a focar em metas, em objetivos de vida. Nada metódico ou sistemático, eu não funcionaria assim. Mas é que eu sempre soube aonde não queria chegar ou aonde não queria ficar. O caminho a percorrer seria conseqüência, inicialmente, dessas duas convicções e escolhas.

O tal do “deixa a vida me levar, vida leva eu” não se adequa a pessoas como eu. Acho que essa filosofia é para quem tem a vida ganha (ou garantida) e por isso aonde chegar será lucro. Essa não é, nem nunca foi, a minha realidade. A minha estória sempre esteve mais relacionada ao “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, mas acima de tudo ao “andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar”.

Ao voltar da trip pela Europa, eu percebi que por mais que eu estabeleça prazos, alvos para alcançar, há situações que fogem totalmente do meu controle. Eu, ingenuamente, pensei que a minha mente e o meu coração não doeriam por estar em lugares que jamais me lembrariam o passado ou me remeteriam à saudade, mas foi uma ilusão boba minha.

É mentir pra mim mesma achar que estou pronta, achar que estou curada. E como diz o Carpinejar, não precisamos perfumar a mentira para acreditar nela porque a verdade não precisa de banho. Eu sempre prometi aos meus queridos jamais desistir ou me entregar, e assim será, mas às vezes tenho a sensação que nunca conseguirei me curar plenamente. Essa sim é a verdade sem perfume.

Isso se chama fraqueza de fé. E eu tenho tanto a aprender sobre fé. Sobre descansar, sobre se entregar sem querer expiar, a esperar sem ansiar. Hoje eu sei que nós levamos as dores para onde quer que vamos. Elas só não estarão mais conosco quando as deixarmos pelo meio do caminho. O difícil é o processo de desprendimento durante esse caminho, pois isso leva tempo e o tempo é algo muito particular. Não tem quem passe por ele por nós.

Por isso, preciso ter humildade para reconhecer as minhas limitações, paciência para esperar a cura do tempo e coragem para seguir com apenas uma meta, e de curto prazo : ser feliz só por hoje.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Meu lugar é aqui

                                        


Barcelona, Londres, Lisboa, Madri, Paris. Essa não foi a ordem na qual eu conheci as cidades. Essa foi a ordem da minha preferência, do meu encanto, do meu amor. Além dessas, ainda conheci outras sete do norte de Portugal, as lindas Aveiro, Óbidos, Cascais, Porto, Sintra, Braga e Barcelos, mas aqui vou deter-me as cinco primeiras.

Barcelona foi amor a primeira vista. Eu sempre quis conhecer Barcelona e não me decepcionei em nada. Barcelona tem vida, tem cor, tem sorriso, leveza, sabor e cheiro. A cidade tem praia, tem clima, tem um dos melhores times do mundo com um dos estádios mais lindos que já vi. Barcelona tem arte, tem espaço, tem verde e jovialidade.

Londres é de uma grandiosidade encantadora. Tudo parece funcionar naquele lugar. Ela é antiga, ela é moderna, ela é clássica, ela é fantasticamente cosmopolita. Nunca vi tanta mistura numa só cidade e o melhor, funcionando. O frio assusta, mas as pessoas, de alguma forma, acolhem. É muita cultura, muito conhecimento para quem quiser ter. Há muito o que se aprender e fazer por ali.

Lisboa e suas sete colinas. Lisboa que me lembrava Olinda. Uma cidade verdadeiramente linda. Certamente o céu mais bonito que vi em toda a Europa. De um azul, uma cor sem igual. Uma cultura que funde com a nossa, é minha história ali também. Da linda Praça do Comércio, do imponente Rio Tejo, do eclético Bairro Alto, da minha linda Ponte 25 de Abril.

Madri é fofa. Ela é querida. Sede do estádio de futebol mais lindo que já conheci, o Santiago Bernabéu do Real Madri. Cidade de praças arborizadas, de comidas deliciosas como o simples e inesquecível sanduíche do Montaditos, sem falar na paella e no Museo del Jamon, claro.

Paris é a história, é o sonho, o mito. Uma cidade que vive pelo passado. Paris é a lindíssima Torre Effeil, o fascínio do Louvre, a doce Montmartre e o astral da escadaria da Sacre Coeur, além do charme da Champs-Élysées e do Arco do Triunfo. É o conto de suas pontes e encanto do Rio Sena. É o frio avassalador. Nos arredores há a linda Versalles e a mágica EuroDisney. E fica mais ou menos por aí.

Decidi falar das cinco cidades de uma forma mais leve, tentando não opinar de forma julgadora sobre as minhas impressões. Até porque a experiência é para ser vivida, e ela é única. O que foi para mim, o que senti, pode ser diferente em você, e que bom a vida ser assim. Já que tenho como filosofia de vida só levar comigo o que foi bom, levo dentro do coração e da memória cada momento vivido nessas cidades, momentos esses que a minha câmera fotográfica jamais registraria.

Mas a principal conclusão dessa linda e inesquecível viagem é que eu moro no melhor país do mundo. Nada se compara ao Brasil. Nós temos centenas de problemas que eles não tem, isso é um fato. Mas nós temos um ótimo clima, nós temos comidas incríveis, culturas geniais, pessoas calorosas, além de sorrisos e abraços gratuitos. Recife é a minha cidade, eu a amo do jeito que ela é e eu sou uma privilegiada por viver – muito mais do que morar -  num “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Deus deve ser mesmo brasileiro.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Começando pelo começo...


Depois de quase um mês sem dar notícias e mais de um mês sem escrever para o Na Próxima Esquina, eis que estou de volta. Pensei em começar escrevendo sobre situações gerais que mexeram comigo durante esse tempo, relacionado à viagem ou não, mas acho que é justo compartilhar de uma forma mais pessoal o que vivi nesse período com os poucos que me acompanham.

Então vou começar pelo começo. Embarquei dia 24 de setembro à noite e cheguei em Lisboa no dia 25 pela manhã, só que no mesmo dia, à tardezinha, viajei para Londres. Então tudo tem ínicio, verdadeiramente, na capital inglesa. Primeiro eu me perdi no aeroporto de Lisboa e levei uns 20 minutos para encontrar o meu portão de embarque. Eu estava um pouco nervosa com a imigração, com medo de fazer besteira e ser mandada de volta e assim não passar o aniversário da minha irmã com ela.

No avião, resolvi relaxar e logo fiz amizade com um vôzinho, o Sr. Paul. Ele era um viúvo londrino muito distinto, tinha 75 anos e acabara de visitar sua nova namorada em Lisboa. Nossa amizade começou porque ele me viu lendo um livro em português e logo em seguida viu meu guia de viagens em inglês. Então ele abriu sua pasta e pegou o seu dicionário em português e me mostrou. Antes de nos apresentarmos, fomos presenteados um com o sorriso do outro pela coincidência. Conversamos sobre a vida em si e fiquei feliz em entender a metade do que ele dizia. A outra metade, dependendo da expressão dele, eu só sorria.

Como uma típica marinheira de primeira viagem que não sabia que para comer ou beber em aviões europeus tem que pagar, deixei minha carteira na mochila e não queria incomodar meu velho novo amigo para pegar o din din e jantar, assim resolvi cochilar. Mas para minha surpresa – e alegria, eu estava com muita fome - fui acordada pelo Sr. Paul que gentilmente comprou um sanduíche delicioso para mim de pepperoni e queijo.

Chegamos na terra da Rainha e ao sair do avião tive vontade de voltar. Levei uma rajada de vento absurdamente gelada no rosto que arrepiou até o pêlo do dedo do pé. Eu desci correndo para entrar no aeroporto, pois não havia aquelas cabines que acoplam na aeronave...fomos a pé mesmo. Eu nunca havia sentido tanto frio na vida. Na imigração, uma tranquilidade e logo após ela, o tão esperado abraço, o da minha irmã.

Escrevi mais do que eu queria, e devia. E como isso é um post de um blogue e não o capítulo de um livro, falo sobre Londres em si, a seguir. Em breve, prometo!