segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mila Maloca


Eu sempre gostei de cachorros. Costumo dizer que tenho duas grandes paixões: cachorros e crianças. Gosto de graça, gosto por nada, gosto não, amo. E alguns meses após Sávio morrer, dia 18 fará um ano, comecei a pensar em ter outro. Só que eu não queria projetar o amor que eu sentia por Sávio em outro animal. Não seria justo, Sávio esteve comigo por 16 anos. Por isso eu vinha amadurecendo devagar a idéia de criar outro, pois teria que ser de todo o meu coração.


Aí de repente a minha mãe surge com uma gata, Mila. Uma vira lata igual a Mimosa. Gata essa que já foi até tema de um texto meu no blog dos cronistas. E um detalhe: eu tenho alergia a gatos. Criei Mimosa de teimosa, mas eu espirro o tempo inteiro perto deles. Era para ser só um dia, depois ela arrumaria alguém para dar, e aí mais um dia, e só mais outro e pronto. Fiquei apaixonada.


Descobri que a minha alergia a gatos é muito pior do que eu pensava. Quando a unha de Mila ou os seus dentinhos afiados tocavam em mim, a minha pele reagia na hora. Ficava um caroço vermelhão que coçava sem parar. Passei dias sem dormir direito, mesmo com a porta fechada. Eu só espirrava, espirrava e espirrava. Meus olhos amanheciam como os de um lutador nocauteado (tudo bem, menos...). E os dias foram passando, meu corpo foi se acostumando e agora eu tenho espirrado pouco e o toque dela não me faz mais tanto mal.


Meus pais deixaram em minhas mãos a decisão de ficar ou não com Mila. Mas eu já não tinha escolha. Os três já estão abestalhados pela gata. Mila virou o centro das nossas atenções. Quem diria? Um gato. Logo eu que sou tão alucinada por cachorros, me rendi a um gato. E nesse período, pensando em escolher entre a minha saúde e ela, refleti sobre tanta coisa e aprendi algo inesperado.


A vida nos surpreende a cada instante. Especialmente com o que não nos é seguro. As oportunidades (sejam lá do que for) aparecem de diversas maneiras, e nem sempre de formas comuns, no tempo esperado ou exatamente como desejamos. E é preciso estar atento e muitas vezes se esforçar, se permitir para aproveitar o que está por vir.


Mila foi assim. O gato não é bem o tipo de animal que me encanta. De fato, eles não são parceiros, companheiros e lindos e maravilhosos como os cachorros, mas sim, eles têm seus encantos. Eu não fui até Mila, ela que veio até mim da forma que a vida se encarregou de trazer. Eu não a desejei. Eu tive que me esforçar pra ficar com ela, pois no início ela me fazia mal de verdade. E eu insisti um pouco mais. Não desisti na primeira dificuldade. Pensei nela novamente rejeitada, sei lá, não teria coragem, mas pensei em mim também. Em permitir a aproximação de algo que não era seguro ou que não era bem o que eu sempre quis ou gostei.


E hoje eu estou feliz. Estou apaixonada por ela. Não posso apertá-la, beijá-la como faço com cachorros, também não quero perder o meu nariz, mas ela me faz muito bem. Ela não vai latir, ela não vai correr na praia comigo, sua língua é áspera, não é bonita e fofa como a de um cachorro e ela não vai me olhar com aquele olhar que só os cães tem. Não posso querer isso dela. Ela é um gato e devo aprender a amá-la com o que ela pode me oferecer, do jeito dela, da forma dela.


Cachorros sempre serão meus preferidos. Mas Mila não entrou na minha vida à toa. Pode parecer bobagem, viagem da minha cabeça, mas vejo nessa estória toda uma oportunidade enorme de crescer, de aprender como pessoa e de aproveitar melhor o curso do rio da vida. Estou reconstruindo muitas idéias aqui dentro de mim. O tempo está passando e hoje eu consigo perceber as coisas de outra forma. Na verdade, eu estou aprendendo a olhar a vida de outra forma. Permitindo novos contextos, insistindo, tentando, buscando mais.


Pois é Mila , você chegou na hora certa e veio pra ficar...quanto ao amor, pode deixar sua maloca, que o tempo cuidará.

Um comentário:

  1. Ola, eu amei a postagem e adorei que você tenha se apegado a uma gata. Eu sempre gostei de gatos, mas não sou de ter vários ( ja reparou que é dificil uma pessoa que adora gatos ter 1 só? ) E eu tenho um só, que fez eu perceber o amor em simples gestos. Ele não abana o rabo, nem corre quando eu chamo. Mas eles como nimguém, se esparrama, a um toque, a um carinho, e ronrronam, e pedem comida e agua passando pelas suas pernas... ms tambem passam pela sua perna sem motivos, pois sabem quando você precisa, sabe se você esta mal e quando precisam deles. Eu gosto do carinho a maneira dos gatos, que é como perceber o grande amor que ele tem pela gente, demonstrada de forma tão sutil... Meu gato se salvou da morte certa, e eu sei bem, que o que o salvou, foi um amor grande da nossa família =) Sejaaaaaaaa muuuuuito feliz com a sua gatinha... quem sabe com uma ajuda da medicina vc não consiga chegar mais e mais perto dela? =) Bjaaaao

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