sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Rumo à Europa

                                   



E chegou o grande dia. Hoje à noite viajo para Lisboa, mas só chego lá na manhã do sábado. No mesmo dia, à noite, sigo para Londres onde vou, finalmente, rever a minha irmã. Eu não me acostumo com a distância física dela, e nem quero. Tê-la por perto sempre será fundamental pra mim, e por ela e por tantos outros, essa viagem tem tudo para ser inesquecível.

Eu não sei como será a minha frequência de postagens por aqui porque minha viagem é de mochila nas costas, descansos em albergues e pé no mundo. Os 7CC é um compromisso, prazeroso, mas é um compromisso e por isso tenho que honrar. Então todas as quartas eu estarei por lá, mas prometo tentar ser assídua e dividir aqui com vocês as minhas experiências em Lisboa, Londres, Barcelona, Madri e Paris.

Meu caderninho estará comigo. Vou escrevendo tudo de interessante que eu puder, aí na primeira oportunidade, compartilho. Volto no final de outubro...até lá, muitas experiências pra viver, muitos sonhos a realizar e muitas estórias pra contar, prometo!



sábado, 18 de setembro de 2010

O que, de fato, é um problema pra você?


Eu não sou das pessoas mais pacientes da face da Terra. Minha fé e resignação diante dos problemas da vida vieram através da oportunidade de praticá-las e assim aprendê-las. E ninguém pratica fé e resignação em bons momentos. Eu já sofri muito por maximizar as coisas, por dar uma dimensão maior a tudo e olhar com lentes de aumento situações que não mereciam tanta atenção. Mas aprendi, ou melhor, tenho aprendido a reverter isso a cada manhã.

Quando Estevinho (meu primo-irmão) teve um câncer de pulmão em 2008, eu fiquei muito revoltada com a vida. E não fui legal com Deus. Estive fraca na fé não porque eu não entendia, mas porque eu não aceitava aquilo. Meu primo tinha 23 anos, nunca fumou nem bebeu, era todo “geração saúde”. Ele fez três cirurgias num intervalo de 34 dias, passou  meses com dois drenos entre as suas costelas, tomou morfina, emagreceu 12 kilos e passou bem perto da morte. Mas Deus é muito massa....Ele olha além!

Foi nessa época que aprendi, espero que definitivamente, a diferenciar o que é um problema do que não é um problema. Aprendi que aquilo que depende de nós para ser mudado não é um problema, é uma escolha, é uma opção que pode até gerar angústia e dor, é verdade, mas se depende de nós para ser resolvido, não denomino assim.

O que não depende de nós sim, pode ser um problema. Por isso a situação do meu primo era um problema pra mim. Estive no hospital quase que diariamente durante os seis meses de internação dele. Eu me disfarçava de aluna (já que ele estava num hospital universitário) e levava seu café da manhã escondido numa bolsa com fundo falso e entregava a minha tia pela janela. Eu saía do trabalho e ia pra lá só pra almoçar com ele e nos fins de semana lá estava eu de novo, mas nunca levava a cura. E isso me doía demais.

Quando descobrimos a malignidade do seu tumor estávamos só eu e ele. E a nossa reação foi sair um de perto do outro. Eu corri pra praia. Eu queria gritar, esmurrar algo, mas longe dele, e ele queria ficar sozinho. Hoje, dois anos depois, meu irmão está noivo, cursando educação física e coloca sua noiva e eu no chinelo quando vamos correr juntos, tamanha a sua resistência física.

Estevinho me ensinou, ele me preparou pra encarar outros problemas da vida. A luta dele pra sobreviver naquele hospital me fez entender de fato como reagir diante dos problemas. E hoje, tudo que acontece comigo, das menores às maiores situações, eu me pergunto: “Ei, Sandryne? Isso é mesmo um problema?”. Respondo-me de forma franca e reajo diferente a cada resposta. E normalmente a resposta é não. Não é um problema. É apenas uma situação chata, triste, estressante, mas que existe uma saída e sim, eu posso superar.

sábado, 11 de setembro de 2010

A vida não é um álbum de orkut



Daqui a menos de 15 dias eu entrarei de férias. Eu assinei minha carteira de trabalho aos 18 anos e desde então eu nunca tirei 30 dias de férias. Esta será minha primeira vez. Também será a primeira vez que carimbo o passaporte rumo a Lisboa, Londres, Barcelona, Madri e Paris.

Vou rever minha irmã e comemorar o aniversário dela, o meu e o do meu cunhado pelo mundo. Cada data num país diferente, mas dessa vez juntas como há 3 anos não acontece. Claro que estou ansiosa pela viagem, mas confesso que mais ainda por isso. Por voltarmos a celebrar o nascimento de um novo ciclo, das duas (ou melhor, dos três), juntas.

Já ouvi de várias pessoas que sabem que vou fazer essa viagem frases como “que chique, hein?”, “tá podendo né?”. Engraçado, as pessoas acham que a vida real é um álbum de orkut onde só existem cenas de alegria e magia. Não galera, a vida (pelo menos a minha) não é. Nem argumento muita coisa ao ouvir esse tipo de comentário, mas só a minha irmã, minha família e alguns poucos amigos sabem o caminho que percorri pra chegar até aqui.

Eu e Soraya estamos planejando essa viagem há mais de um ano. Nós não temos “paitrocínio” nem “mãetrocínio” desde os nossos 12 e 13 anos quando começamos a trabalhar como office boy. Dessa idade em diante, todo o supérfluo (viagem, cursos, roupa e etc) foi com a gente. É muito fácil o pessoal olhar o álbum da minha irmã e dizer que ela e Daniel estão muito bem, conhecendo o mundo e tal, mas ninguém além deles sabe realmente tudo que eles passaram.

Alguém que me lê aqui sabe que o meu cunhado trabalhou, entre tantas coisas, de carteiro em Lisboa carregando mochilas pesadas e de tanto andar criou bolhas nos pés que o fizeram um dia ter que parar e sentar na calçada chorando sem saber ao certo o que estava fazendo naquele lugar? Alguém aqui sabe que a minha irmã largou o emprego de professora universitária em Recife para trabalhar mais de oito horas em pé vendendo bijuterias num shopping? E tudo isso para pagar o mestrado. Ah, não há fotos no orkut sobre isso.

A minha estória com essa viagem resume-se a planejamento e força de vontade. Não posso me dar o luxo de pensar “ah, quero viajar”, aí sacar a grana no banco e ir. Eu terminei de pagar a passagem dessa viagem em maio, de juntar a grana mínima para me manter lá em junho e agora tá chegando a hora de fazer tudo isso valer a pena. Serão mais de 30 dias sem trabalhar, sem o trânsito de Boa Viagem, sem rotina, sem ter medo de me permitir, sendo muito feliz.

Eu viajo cheia de expectativas de novos colírios de lugares e pessoas para minha a retina, de novos amigos, de novas experiências, de novas sensações, de novos sorrisos e do velho. Do velho acordar e ver a minha irmã do meu lado, do velho dormir e saber que ela está ali caso apareçam raios e trovões, do velho e simples hábito de desejarmos uma a outra, pessoalmente, um feliz aniversário.

Novas estórias virão, também assim espero. Porque certamente o que mais torço para acontecer são novas inspirações, pra tudo. E sim, eu colocarei fotos no orkut.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um carro 1.0 com ar condicionado ligado





Sabe quando você quer seguir, sente que precisa continuar e algo maior te impede ou simplesmente você não consegue? Pois bem, essa sou eu em algumas manhãs. Na teoria é tudo muito simples: eduque seus pensamentos, preencha seu tempo com coisas úteis, espere o tempo passar e por aí vai. Mas como eu já escrevi aqui antes, nem sempre a prática pratica a teoria.

Quem tem carro popular 1.0 sabe a diferença da força dele em andar com o ar condicionado ligado e com o ar desligado. Tenta subir uma ladeira de Olinda com um carrinho desses com o ar funcionado....vai lá...aproveita e pede pra todo mundo sair de trás porque é bronca conseguir! Ele perde muita de sua capacidade e eu não sei explicar o porquê, como dizia Chicó do Auto da Compadecida, “só sei que foi assim”. E não é que há momentos em que eu me sinto exatamente assim? Um carro 1.0 com o ar condicionado ligado.

Sei pra onde devo ir, lembro de tudo que já me disseram pra fazer, vou a minha caixinha de forças diárias, pego a minha dose de ânimo e levanto da cama pra....pra nada. Isso porque tem dia que nada faz muito sentido pra mim, e eu detesto admitir isso. Meu corpo tem reagido incessantemente à realidade da minha mente. Desde o início do ano uma dor atrás da outra está aparecendo e todos os médicos dizem a mesma coisa: seus exames não dizem nada demais, suas dores são de caráter emocional. E vale salientar que eu não tenho nada de hipocondríaca. Quem me conhece sabe que eu detesto tomar remédios.

Por tudo isso, apesar de eu me respeitar muito, às vezes exijo muito de mim mesma. “Bora, Sandryne, reage que não vai adiantar nada ficar nessa”. Eu sou a pessoa que mais me aconselha. Nós (eu e eu mesma) ficamos grandes amigas, até porque uma depende da outra pra ficar bem. Acontece que a morte de Sávio foi uma grande rasteira na minha caminhada de reestruturação emocional. Eu não estava preparada para perdê-lo. Eu precisava de mais um tempo para digerir a outra perda. Só que nada é por acaso e tudo tem uma grande razão de ser, e acredito de verdade nisso.

Eu sei que já evoluí muito e acredito no melhor do porvir porque estou fazendo a minha parte. Não creio estar embaçando as boas energias ao meu redor. E tenho pedido muito a Deus que eu tenha olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para sentir quando chegar o momento de virar essa página e recomeçar minha vida sentimental. 

Aos poucos estou desligando o ar condicionado e seguindo com toda a força que possuo dentro de mim. Eu posso estar agora apenas na segunda marcha, mas devagar, uma por uma, como tem que ser pra não bater o motor, eu chego na quinta. E lá alcançarei a verdadeira liberdade, a de dentro pra fora, novamente livre pra amar...eu chego lá!