quarta-feira, 28 de abril de 2010

O charme de um olhar

Esses dias eu estava num trânsito daqueles e o som do meu carro, pra variar, não queria ler os cd´s. Sintonizei numa rádio local, num programa com músicas “das antigas” e tocou Olhar 43 do RPM. Eu conheço a música, mas ela não fez parte da minha adolescência nem o Paulo Ricardo – mesmo super charmoso – era o “cara dos meus sonhos” para ela ter me feito refletir tanto. Por isso eu quero me deter aqui tão somente ao “olhar” e não à música.

É que eu tenho uma queda por olhares, por troca de olhares. Especialmente os que falam mais do que frases feitas ou cantadas bestas. Não falo daquele tipo de olhada que mais parece um diagnóstico de raio X de tão minuciosa. Não, não. Essa beira o invasivo e o constrangedor quando não há intimidade. Não atrai, afasta.

Pra mim, não há nada mais charmoso do que um homem que sabe dar aquela piscada seguida de um sorriso. O George Clooney é um exemplo perfeito desta equação: piscada charmosa + sorriso bonito = mulher encantada.

Davi, meu ex namorado, uma vez me falou que fez altas coisas para chamar minha atenção antes de nos conhecermos. Porém, eu realmente só o vi quando, naturalmente, ele piscou e sorriu pra mim. Meu coração disparou na hora e - como dizem minhas amigas - borboletas passearam no meu estômago. Ele mal sabia que me conquistara naquele momento.

Eu sei que tenho, mesmo que até inconsciente, um tipo físico que me atrai com mais freqüência. Mas isso se torna insignificante diante de uma conversa bacana, de um bom humor e do charme de um olhar, não necessariamente o 43.

domingo, 25 de abril de 2010

O direito de ser criança de Roberto


Hoje as palavras se misturam com as lágrimas e a tristeza com alegres lembranças. Roberto, uma criança de 12 anos com a experiência de vida de um adulto, se foi. Ele era uma criança de sorriso difícil, de poucas palavras, de uma expressão profunda e um olhar transparente. Não foi rápido nem fácil conquistá-lo, mas eu não desisti. Depois de anos, na festa do dia das crianças do ano passado (onde tiramos a foto acima), ganhei seu primeiro e verdadeiro abraço.

Roberto era uma das crianças que fazem parte do trabalho voluntário que desenvolvo com a comunidade da Favela Suvaco da Cobra em Barra de Jangada. Minha mãe coordena esse projeto há quase 19 anos e eu sou apenas uma das responsáveis pelas crianças.

Roberto era muito revoltado, seco e frio. A vida o fez assim. Antes de hoje, eu já havia chorado por causa dele uma vez. Em 2008, não lembro o mês, ele estava muito agressivo com os colegas, comigo e o chamei para conversar. Durante a conversa eu disse que o amava e ele quase me bateu. Ele disse que era impossível eu amá-lo. “Se meu pai e minha mãe não me amam, como você que nem me conhece direito me ama?”, disse ele com um olhar que partiu meu coração.

Naquele momento eu me dei conta que aquela criança nunca soubera o significado, o sentido da palavra amor. Ele me deixou sozinha e foi embora, parecia que eu havia dito algo ofensivo. Chorei em casa no colo da minha mãe e questionei a minha capacidade de lidar com crianças assim. Passei a semana pensando naquilo e prometi a mim mesma que não ia desistir.

No mês seguinte, assim que o vi, o puxei pelo braço e o abracei dizendo “amo você só por você existir, isso é suficiente pra você?”, ele disse que sim e ali ganhei o seu primeiro sorriso sincero. Fui conquistando Roberto pelas “beiradas” e ele foi se abrindo, participando das aulas, das brincadeiras, ele estava tão melhor.

No último dia que o vi, último domingo de março, ele estava estranho, recluso. Subiu numa árvore enorme do pátio da escola e não queria descer. Eu fui até ele e conversamos muito tempo lá em cima. Até que ele foi se desarmando e desceu comigo. Ele só queria chamar atenção, ele só queria ser notado, saber que alguém se preocupava com sua vida.

Quarta-feira, dia 14, foi a última vez que falei com Roberto. Liguei para saber como ele estava e fui surpreendida com um “estou com saudade, tia”. Eu disse que no domingo, hoje, combinaríamos de irmos para o circo, ele e outras crianças que acompanho mais de perto e ele estava entusiasmado.

Roberto não vai mais para o circo, não vai me ajudar mais nas aulas – sim, ele havia sido “promovido” de aluno para ajudante -, nem jogar bola comigo ou participar da corrida de saco. Algo mais grandioso espera por ele. A morte é sempre algo muito complicado de lidar, de uma criança então é mais estranho ainda. Sentirei muitas saudades dele, mas acalenta-me saber que ele se foi para um lugar onde ele poderá ser criança, coisa que ele nunca verdadeiramente teve o direito de ser. Acalenta-me saber que ele hoje desfruta da leveza e da paz que talvez, em vida, nunca tenham lhe dado.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Continue em frente


Dizem que o amor, o tal “verdadeiro amor”, só se sente uma vez na vida. E até poucos meses atrás eu acreditava nisso. Mudei de idéia, ou melhor, para continuar minha trajetória estou aprendendo – por enquanto apenas na teoria - a mudar essa idéia. Uma vez minha irmã me disse que amamos mais de uma vez na vida sim, só que de formas diferentes, pois são pessoas diferentes em momentos diferentes.

E eu confio tanto nela que quero acreditar em sua razão. Talvez um dia eu afirme com propriedade sobre isso aqui no blogue. Hoje eu ainda não posso. Isso porque, de fato - até agora - só amei uma vez. E amei muito. Eu amei os detalhes que se tornaram um todo. Eu amei o passado que cuidou do encontro. Eu amei o futuro que não pude viver.

Não procuro ter momentos de reflexão assim. Na verdade, pelo contrário. Até procuro fugir deles, evitá-los, mas essa noite eu não consegui. É que quando eu fechos os olhos e relaxo por um instante se quer, eu sou levada pelo meu coração e pelas minhas lembranças aonde não posso fisicamente ir, mas onde a mente pode chegar.

Sinto que está chegando a hora de tampar a caixa das lembranças físicas, de fechar a gaveta. Estou buscando coragem. Apesar de que dentro de mim sempre haverá um baú intocável e exclusivo com tudo que fez parte desse amor. Eu não sei se realmente viverei outro amor, nem procuro imaginar o que está por vir. Até porque eu não procuro um novo amor. Nem o evito. Eu vivo e apenas continuo em frente.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

De lagarta a borboleta

Estou numa fase de transição. De redescobrir-me, de reaprender a sonhar sonhos perdidos e novos sonhos. E isso nem sempre é fácil ou simples. Há dias em que vou dormir certa de algo e acordo com tudo absolutamente ao contrário. E forço-me a respeitar o tempo, o meu tempo, o tempo da vida em si.


Há que se vê o lado bom dessa falta de monotonia dos meus pensamentos, mas há também que se admitir que isso confundi, atormenta. Aos 28 anos, sinto-me perdida em alguns aspectos da minha vida. Cedo, tarde ou na “flor da idade” para isso? Sei lá. Só sei que não vou buscar respostas que limitem prazo para mim. Nem tampouco vou insistir em situações que não fluíram no meu dia dia.


Reconheço que algumas dores tornaram-me reclusa de mim mesma em certas situações e que posso ter voltado a ser uma “lagarta”. Porém, também sei que ,em breve, hei de tornar-me novamente uma "borboleta". E meu vôo será pleno, pois a mudança será de dentro para fora, como tem que ser...e será!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

7 Cronistas Crônicos


Eu não tivera a real noção, a tamanha responsabilidade de se ter um blogue até receber um convite muito especial. Gustavo é um blogueiro, amigo da minha irmã e do meu cunhado, que eu não conheço pessoalmente, mas sinto verdadeiramente como se conhecesse.

Através de seus posts, Gustavo despertou –novamente - em mim a vontade de escrever. Eu não sabia que ele me acompanhava aqui no blogue. Eu sim, que desde a primeira lida nunca mais deixei de ler o fascinante D´Além Mar.

Mas algumas semanas atrás, Gustavo me surpreendeu com um e-mail convidando a mim e mais cinco blogueiros, segundo ele escolhidos a dedo, para uma aventura literária idealizada por ele, e que hoje compartilho com vocês.

7 Cronistas Crônicos. 3 mulheres e 4 rapazes do Brasil e de Portugal com uma proposta: a cada dia da semana um blogueiro diferente postará crônicas livres cuja única condição é escrever com o coração. Somos eu, Gustavo, João, Leandro, Priscila, Rafael e Sofia. Novos amigos com os quais eu tenho aprendido, literalmente, todos os dias.

Quem gosta do Na Próxima Esquina certamente gostará dos 7 Cronistas Crônicos. Somos tão diferentes e às vezes tão parecidos. Unidos pela língua portuguesa, pela escrita, ou melhor, pelo amor que temos por ela.

Meu blogue é como a minha casa, como se eu morasse sozinha. Os 7 Cronistas Crônicos é uma casa coletiva, quase um albergue, e meu quarto é o número 4, pois publico no quarto dia da semana. Nessa casa não há monotonia. Todos os dias um quarto se destaca, revela um mistério, uma magia, um encanto. Eis o meu novo canto, o meu novo doce lar.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A prática não pratica a teoria


A gente “sempre” sabe o que tem que fazer. Mas a prática não pratica a teoria. E o que a idade, a maturidade, a serenidade e qualquer outra “ade” tem a ver com isso? Nada. Se sou a única a se sentir assim, manifestem-se.

Por que é tão difícil não criar expectativas? Sabemos que o bacana é não criar, é ser livre, é deixar acontecer e blá blá blá, mas a prática não pratica a teoria. E esperamos, ansiamos, acreditamos, confiamos...e, bom, o final da rima fica a critério de cada um.

E não estou falando apenas de relacionamentos amorosos. Eu falo da vida, do futuro, do trabalho, da família, dos amigos. Depositamos crendices, muitas vezes tolas, em pessoas, em situações que, na maioria das vezes, não sinalizaram nada para nós. O que vale é participar, é insistir, é experimentar...lindo, bacana! Mas também o que vale é arcar com os riscos que se há de trilhar, afinal, a prática não pratica a teoria.

Entre o medo e o anseio, fico com anseio. Entre o ir e o vir, eu vou. Decidi há pouco arriscar mais, experimentar mais, porém com uma única condição: me respeitar. Vejo em mim a necessidade de aprender a aceitar mais os sinais apresentados pela vida. Lendo-os como eles são e não como eu queria que eles fossem. Só assim, talvez, um dia, essa teoria seja praticada na minha prática.

domingo, 4 de abril de 2010

Outra onda se aproxima.

As sensações foram diferentes. Ele pensou num possível recomeço. Ela, em mais uma aventura de verão. A química é irmã da física, que é bastarda da razão. Foi de momento. Foi só mais um. Há tempos ele não saboreara algo tão amargo, simplesmente um não.

Os sinais foram dados, estavam lá. Ele não soube ler. Ou não quis? Talvez porque só lemos os sinais que queremos ou apenas entendemos e compreendemos aquilo que nos convém. Não era fácil para ele aceitar que havia se enganado. Não depois de tudo que foi dito entre eles. Depois de tantas dores passadas parecia ser ela a que vinha para ficar...e ficou, no tempo que bastou.

Podemos comparar a vida como uma onda do mar que leva e traz as mais diversas situações, nesse contexto, as mais diversas pessoas. Ela leva E traz. Às vezes ela leva aquilo que não permitimos. Às vezes respeita o nosso livre arbítrio de entregá-la o que não temos controle. E ela cuida, e leva se tiver que levar e deixa se tiver que ficar.

A vida pode ainda levar as pessoas e trazê-las novamente um dia, numa outra situação. Muitas vezes o “não” de hoje corresponde ao “sim” de amanhã ou, naturalmente, apenas a um não mesmo. Só que outros “sim” virão se permitirmos isso.

Não, não era ela. Não tinha que ser. Olha pra frente rapaz, ou para o lado. Só, por favor, não olhe agora para traz. Ainda não. Bem na sua frente outra onda se aproxima. Mantenha-se aberto para receber o que ela traz para te dá, e receba... e seja feliz.