quarta-feira, 26 de maio de 2010

Paciência


A paciência é uma virtude rara. Para tê-la é preciso paciência , tempo e sabedoria. Por ela ou por causa dela somos forçados a reconhecer que não temos total controle do tempo em nossas vidas. Por isso, há momentos em que por mais que façamos algo para mudarmos uma situação, nada acontece. Há que se apenas esperar.

A sensação de impotência que muitas vezes a paciência apresenta é que atormenta. Há contextos em que não há como adiantar, não há como atrasar, não há o que fazer, há que se apenas esperar. Esperar o eixo, esperar o centro, esperar o equilíbrio, esperar e esperar.

Sem a paciência , os vícios se somatizam como numa bola de neve. A impaciência gera agitação, que gera a intolerância, que gera o mau humor, que gera o desrespeito, que gera o desamor. Com ela, as virtudes se multiplicam. A paciência gera a calma, que gera a tolerância, que gera o bom humor, que gera o respeito, que gera o amor.

Ninguém nasce paciente. Eu, particularmente, não sou . Às vezes eu tenho paciência, mas ela nem sempre me tem. Pior pra mim. É preciso adquiri-la, cultivá-la, praticá-la e mantê-la constantemente. E o nosso dia a dia é repleto de oportunidades para isso. Começemos então sendo pacientes com nós mesmos. Com as nossas limitações, com as nossas indecisões, com os nossos medos. É só uma questão de calma, de tempo, de vontade...e de paciência.

segunda-feira, 24 de maio de 2010


Nem todo dia consigo interpretar a fortaleza que tantos pensam que eu sou. Fui até recomendada a deixar a carapuça cair e admitir minha fraqueza, especialmente “aos meus”. Acontece que eu realmente acho que todos têm seus problemas e não é justo ficar “chorando minhas pitangas” assim. Não é orgulho, é só o meu jeito de encarar as coisas.

Há noites em que eu acordo e acho que é dia de tanta esperança que surge em mim. Há dias que são tão difíceis e escuros que me sinto na solidão da noite. Sei o que tenho que fazer para tentar conviver de forma mais amigável com aquela que jamais será minha amiga, a dor. Mas humildemente reconheço que nem sempre tenho forças contra ela.

Perder um amor é tão difícil como sei lá o quê. Não consigo encontrar palavras para comparar a sensação de vazio que se sente ao perder um amor e com ele seus planos e sonhos. Em momentos que beiram à loucura, penso que meus últimos 11 anos foram uma ilusão, que não vivi nada daquilo registrado nas fotos, nas cartas e no meu coração.

“Ah, mas você está tão bem!”, “ Poxa, você tá ótima”. É fácil descrever algo pela embalagem sem ver o que está realmente ali dentro. Por mais convidativa que seja desistir da luta, eu não desistirei. Por menos força que eu sinta para acreditar que dias melhores virão, eu continuarei acreditando e fazendo a minha parte para que isso seja real.

Mas hoje, só hoje, eu preciso admitir que não, não estou bem! Amanhã eu hei de melhorar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Oportunidade é sinônimo de vontade





Há momentos em que o certo me parece incerto, a estabilidade me torna instável e o seguro só me causa insegurança. Essa confusão toda aflinge e consola. Consola por me mover dentro da minha zona de conforto. Quase como o medo, despertando e paralisando meus sentidos. E a coragem que incentiva e sacia os meus quereres.

Demorei para conquistar algumas certezas na vida. Demorei para superar alguns medos. Demorei para ter coragem e saciar a vontade de mudar o rumo do meu caminho. Acovardei-me nessa espera de “tudo tem seu tempo” e acreditei estar disponível para o bom acaso da vida. Hoje sei que o tempo, muitas vezes, é a gente quem faz e que oportunidade é sinônimo de vontade.

Aprendi que apenas o incerto é certo na vida. Tudo o mais é mais. A estabilidade é temporária e a segurança é provisória. Isso se depositarmos elas em outro alguém que não em nós mesmos. Quando descobri que a minha vida estava no controle das minhas pequenas decisões, aceitei sem julgamentos as chegadas e despedidas daquilo que um dia eu fui, do que hoje eu sou e agora me entrego sem medo ao acaso daquilo que um dia eu serei.

domingo, 16 de maio de 2010

Cartas, listas e rock`n roll


Eu tenho um baú feito de reciclagem de jornal com cartas que recebi durante toda a minha vida. São mais de 100 cartas escritas a punho por amigos, crianças, familiares e ex-namorados. De vez em quando eu recorro a ele para encontrar com muitas dessas pessoas que nem fazem mais parte do meu dia dia, mas que sempre, de alguma forma, farão parte da minha vida.


Numa madrugada dessas fui visitar essa minha “caixinha mágica” e encontrei uma listagem feita em 1998 quando eu tinha 16 anos. Fiz essa relação de bandas e vocalistas com a minha melhor amiga do terceiro ano, Nathália. Nós éramos – e ainda somos – apaixonadas por rock. Como a nossa paixão na escola era literatura e história, nas aulas de exatas fazíamos listas e mais listas relacionadas a vocalistas, baixistas, guitarristas e bateristas de bandas de rock.


Naquela época não tínhamos acesso à internet, nós pesquisávamos em nossas revistas, em nossos CD´s e íamos muito a uma loja tradicional de rock de Recife, a Vinil, para pesquisar (e comprar mais sons) por lá. Com a listagem pronta, nós a estudávamos e fazíamos uma espécie de chamada oral uma com a outra. Quem ganhava podia escolher uma Revista Bizz ou Fluir da perdedora.
Assim como as cartas, essas bandas também fazem parte da minha vida. Algumas mais presentes nos meus ouvidos e no meu coração, outras menos. Porém, esse registro no papel me trouxe na lembrança todas elas com a mesma intensidade da construção dessa lista há 12 anos.


Por causa dela, saí procurando meus CD´s e vinis – eu colecionava vinis de rock – espalhados pela casa e depois de todos reunidos eu fiquei um tempão os admirando. Quase 90 cd´s originais, mais de 50 vinis. Fiquei lembrando do momento em que comprei e ganhei alguns deles, reli dedicatórias de amigos e uma do meu pai, em especial, num CD presenteado aos meus 15 anos com a sua célebre frase: “sexo, drogas e rock´n roll”.


Que o meu amor pelo rock permaneça, que o meu amor pelas cartas se fortaleça, que eu não me esqueça de registrar pensamentos e sentimentos em que suporte for. E que amanhã eu volte aqui e o hoje prontamente se faça presente com o sabor gostoso de outrora como se fez agora.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

A memória desmemoriada


Dizem que as pessoas detentoras de uma boa memória são ditas como "memória de elefante". E aquelas que possuem uma memória ruim tem uma "memória de peixe". Nem sei se cientificamente isso procede, se sim eu devo reconhecer que tenho a de um peixe, um beta talvez. É que a minha memória é desmemoriada.

Sou até boa com datas, textos, fatos, mas sou um fracasso em gravar rostos e nomes. Como é constrangedor encontrar alguém na rua que faz uma festa quando te vê e você parece nunca ter visto a figura na vida! E as táticas para fazer a pessoa falar o nome dela para você não parecer arrogante ou doida? E o sorriso amarelo? É literalmente a graça da desgraça.

Eu preciso de alguma convivência ou vivência para lembrar. Eu preciso do olhar, das palavras, do sorriso, mesmo que virtuais. Apenas um “oi, esse é fulano” não me fará lembrar dele no futuro, pelo menos até hoje isso nunca aconteceu. Às vezes fica um resquício, um grão de areia de lembrança na minha memória. Porém, normalmente, fico a ver navios.

Queria lembrar mais do que eu vivo hoje. Queria poder esquecer um pouco o que eu não consigo.Mas parece que o cérebro é ainda mais traçoeiro do que o coração. Talvez seja porque eles são primos irmãos.

domingo, 9 de maio de 2010

Mãe Mulher


Poesia feita para mainha quando eu tinha 14 anos num momento difícil das nossas vidas.
14 anos se passaram e uso-a aqui para novamente dedicá-la em meu nome e de Aya.
Nós te amamos, mainha!


Mãe mulher
estrela do meu mar
representada para amar
em então receber e muito para dar

Compreendendo o teu estar
abundantemente em teu olhar
escrevo-te para dar
minha força em te apoiar

Mãe mulher
de força cativante
escodida no semblante
de um mistério interessante

Aprendendo teu lutar
me inspiro em aprender
para aceitar o meu viver

Mãe mulher
de magia e fantasias
sei que ainda existe alegria
em teu olhar equidistante

Mãe mulher
companheira que há fé
de abraços esperados
de presença desejada
de proteção maravilhante

Viciada em teu romance
teu afeto necessitante
segurança enlaçada
em teus braços de horizonte

Mãe mulher
que houve tanto o que sofrer
que há tanto o que compreender
que há tanto o que viver

Mãe mulher
que houve tanto o que pedir
que há tanto o que seguir
que há tanto o que sorrir

És minha eterna Mãe mulher


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Eles deram certo



Eu terminei de ler os livros Canalha e O Amor esquece de começar do Fabrício Carpinejar. E não me conformo. Não me conformo. Como ele escreve crônicas tipo “A beleza dormindo”, “ Esse gemido”, “ Emprestando roupas ao marido” , “Sei”, “ Desabotoando a camisa da cintura aos seios” e mais tantas outras e depois se separa dessa mulher?

O Carpinejar foi casado com a Ana e para ela escreveu textos incríveis. Dentre os citados acima, ele passeia pelas palavras com dizeres como: “Ponho com orgulho os casacos de minha mulher. Apenas nos momentos em que não posso vestir seu corpo “; “ Não procuro em minha mulher a mudança visível e aberta, mas a permanência que a torna diferente em mim”.

Antes de começar a ler os livros eu fui alertada de que eles já estavam separados. Algo como saber quem morre no final de um filme de suspense. Mesmo assim eu fiquei surpresa, e triste. Já me sentia amiga do casal, íntima de suas intimidades, uma visita constante de suas casas.

No final dos livros (que li ao mesmo tempo alternando as crônicas), refletindo sobre a Ana e o Carpinejar, e sobre mim, sobre os meus relacionamentos, mais uma vez aprendi e reinventei meus conceitos. Eles deram “certo”, claro que deram. No tempo que tiveram, na intensidade que viveram.

Temos uma mania estranha de justificar o fim de uma relação com um “não deu certo” e isso é no mínimo ingrato. Ingrato com os momentos passados, com as lembranças futuras. As pessoas mudam, as circunstâncias da vida mudam, os sentimentos mudam. E não há nada de errado nisso. É o destino que segue, é o amanhã que virá. Eu já me conformo.

domingo, 2 de maio de 2010

Tudo acontece em Elizabethtown



Acabo de assistir o filme “Tudo acontece em Elizabethtown”. Mais despretensioso que o filme, só a maneira como o assisti. Não decidi assisti-lo, tanto que não o vi do começo. Cheguei a ele numa daquelas incessantes procuras pelo o quê assistir na bela programação dominical da TV aberta.

Eu gosto de comédias românticas, gosto sim. Só que especialmente daquelas que acrescentam algo mais do que sonhar que a minha vida um dia será como aquele filme de final feliz. Já passei dessa fase. E Elizabethtown fez isso comigo hoje.

Não quero nem tenho competência para fazer uma crítica ao filme, muito menos escrever a sinopse dele. Eu quero é passear pelas lembranças passadas e vontades futuras que ele despertou em mim.

Eu já briguei, discuti e chorei com a imagem de Davi ao meu lado enquanto dirigia como Drew (Orlando Bloom) fez com a urna das cinzas do pai dele. Eu já me senti uma fracassada e busquei - mesmo que sem querer – um sentido para minha vida e achei. E costumo fotografar cenas simples com meu coração como a Claire faz no filme com seu charmoso "click".

Por outro lado, eu descobri há pouco tempo o prazer de se viajar de carro, mas nunca pensei em trilhar um roteiro sozinha como o Drew fez. Também nunca pensei que perder alguém pudesse ser motivo de celebrar a vida desse alguém como ele fez com a vida do pai. A cena da família e dos amigos cantando, lembrando do Mitch (pai do Drew) em vida me fez lembrar uma frase do Drummond que diz assim: “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional”.

A família Baylor (personagens do filme) tornou a perda do Mithc uma dor sem sofrimento e celebraram a vida dele como fazemos nos aniversários, só que um aniversário de uma vida inteira. “Por um acaso” da vida, no meio de tudo isso, o Drew ainda conhece uma garota incrível, a Claire( Kirsten Dunst), desprovida de pudores, regras ou rótulos. Com uma liberdade de escolha, de atitudes e de uma leveza apaixonante.

Tudo acontece em Elisabethtown, tudo acontece ao nosso redor. Perdas e ganhos. Sorrisos e lágrimas. Comédias e dramas. Cada um decide em que filme quer atuar. Eu respeito meus momentos, minhas tristezas, meus dramas, mas como eu disse, eu gosto de comédias românticas, gosto sim. E prefiro atuar nelas, prefiro aceitar as histórias do Nelson Rodrigues, prefiro aceitar “a vida como ela é”
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