segunda-feira, 5 de julho de 2010

Plantando sementes

Duas noites e três dias que pareceram um mês. Assim eu me senti ao chegar em casa após o fim de semana trabalhando no acampamento para adolescentes da favela das Carolinas (Candeias). Eram quase 90 adolescentes e em torno de 15 voluntários. Muito mais do que poderia, muito menos do que deveria. Eu imaginava que seria difícil, só não fazia idéia do quanto.

Quando eu fui convidada pelos meus amigos dos Surfistas de Cristo, topei de imediato. Colocar a mão na massa é comigo mesmo! Minha experiência e meu xodó são crianças. O público adolescente seria algo novo, mais um motivo para aceitar. Eu sabia da baixa dos voluntários, sabia que seriam muitos jovens, mas quando cheguei lá, admito que me assustei. Só que eu não costumo desistir fácil das coisas, muito menos quando se tratam de vidas e parti para o campo de batalhas.

Entre aqueles adolescentes havia traficantes, viciados, meninas promíscuas e muitas histórias tristes, muitos corações carentes de afeto e atenção. Eu ainda levei dois meninos do meu projeto da comunidade de Barra de Jangaga porque ambos têm 13 anos. Eram quase 90 pessoas de responsabilidade nossa e 2 de responsabilidade só minha.

Nós queríamos colocá-los num ambiente diferente dos que eles vivem. Tanto que pagamos para trabalhar lá e ainda contamos com o suporte de uma igreja e de outras doações. Os adolescentes brincaram, tomaram banho de piscina, jogaram bola, volêi, fizeram trilha, comeram bem e aprenderam sobre a inveja, a gula, a lúxuria....o tema do acampamento foi: Você contra os 7 ( os 7 pecados capitais).

Foi interessante vê-los falar sobre seus sentimentos, seus medos, suas preocupações. Aquelas pessoas não tiveram muito direito à infância, e isso justifica o fato de muitos ali aos 19 anos se comportarem nas brincadeiras como se tivessem 9. Enfrentamos muitos problemas relacionados a vícios e sexualidade, não foi fácil contê-los, ensiná-los, atendê-los, suprí-los e amá-los. É preciso muita paciência, muita fé em Deus e amor a Ele para segurar a onda.

Voluntários desistiram e voltaram para casa e eu não os julgo, mesmo! Nosso maior esgotamento era mental, o físico era o de menos. Eu acho que perdi um kilo nesse fim de semana. Comi muito pouco, dormi muito mal, mas quando cheguei em casa ainda tive disposição e dancei para os meus pais uma coreografia que os meninos fizeram lá de uma música bem legal. Ou seja, eu estava cansada, com dores em tudo que é lugar, mas feliz!

Eu sei que plantamos sementes. Desde sempre eu sabia que não mudaria a mente, o comportamento de ninguém, muito menos de adolescentes em situação de risco num fim de semana. Mas apesar de tudo que aconteceu ali, tivemos muitos momentos de alegria, emoção, compaixão e carinho. Fiz amizade com muitos deles, acho que decorei o nome de uns 30 e lembrarei dos rostos de quase todos.

No final, mesmo sem tudo ter corrido como sonhamos e planejamos, saí de lá com uma sensação bem pessoal e intransferível: que aprendi a amá-los, que fiz a minha parte, que eu dei o melhor de mim...essa sim é a minha verdade!

2 comentários:

  1. Que muitas verdades como a sua sejam estabelecidas nesse mundo tão cheio de injustiças sociais.
    Boa sorte sempre nessas empreitadas Dyne.
    Viva o amor, viva a paz, viva a sua parte feita tão bem...

    Xero.
    Simoninha.

    ResponderExcluir
  2. Se todos fosse no mundo iguais a vc...que maravilha viver!

    ResponderExcluir