sábado, 17 de julho de 2010

Para Rafa Cury


Às vezes as pessoas mais distantes fisicamente são as mais próximas em algumas circunstâncias da vida. Dia 29 de junho, um ano do falecimento de Davi, foi um dia muito solitário pra mim. Naturalmente muitas pessoas esqueceram a data e pouquíssimas se fizeram presentes, exceto a família dele, minha mãe, minha irmã e o meu cachorro. Alguns amigos ainda mandaram mensagens e tal, mas eu senti falta de abraços nesse dia, de palavras que me confortasse e direcionasse. Foi aí que às 16:59h, quando eu estava no ápice da minha carência afetiva,  recebi um presente. Um presente muito especial.

Recorri a esse presente na manhã de hoje porque meu cachorro teve um segundo derrame cerebral. Ele sofreu muito toda à madrugada e agora me sinto como se tivesse sido torturada por horas. Meu coração dói muito, meu corpo reage ao meu medo e a minha dor. Chegamos do veterinário e me deu vontade de olhar umas fotos de Savinho num baú que eu tenho e quando eu vi, lá estava ele, o meu presente, o “Soneto para Sandryne” escrito pelo Rafael Cury (meu amigo cronista do blog) enviado por email e que eu imprimi.

Sabe aquelas pessoas que sentem empatia mútua instantânea? Acho que foi assim comigo e com o Rafa. Eu gosto dele de graça, mas nunca nos vimos pessoalmente, nunca houve abraços ou olhos nos olhos. O lance é que o nosso carinho parece ser inerente a tudo isso. As palavras nos uniram, a minha dor o trouxe mais pra perto, o seu soneto salvou meu dia. A intenção, segundo ele, era arrancar um sorriso. De imediato foram lágrimas, em seguida sim, sorrisos e mais adiante...paz.

Eu tinha que agradecer o soneto à altura, pois por mais quente que as palavras possam ser, eu queria muito humanizar meu agradecimento. Foi aí que eu liguei para minha irmã em Portugal e por sorte (acaso?) ela estava com Gustavo, nosso líder cronista. Falei com ele, expliquei a situação e pedi para que inventasse alguma estória e conseguisse o telefone do Rafa pra mim. Na tarde do dia seguinte, lá estava o e-mail com o número. Liguei para ele e dei uma dica “quem está do outro lado da linha é sua amiga cronista do Recife”, claro que o Rafa acertou e tivemos uma conversa linda e emocionada.

Recorri ao soneto hoje de novo. Eu precisava lembrar de como reagir diante da dor. Essa é uma das maiores vantagens das palavras registradas, a liberdade de voltar.

Sinto-me novamente melhor, Rafa e esse post eu dedico a você e a sua amizade, que é tão especial pra mim.

Soneto para Sandryne

Menina bonita, abandona o pranto
Vem ver teu recanto à esperar por ti
O sol está mais forte, esquenta um tanto
Alegra teu canto, vem por aqui

Menina de trança, tem muito encanto
Isso eu garanto que o mundo já viu
Que a noite já chega, beleza e espanto
Estrela cadente, também caiu

Numa tristeza deveras infinda
Era fogo puro, beirava o horror
Mas mesmo fugaz, tal estrela é linda

E de linda que é, acaba com a dor
Pois se uma doçura te sobra ainda
É porque em teu nome transborda o amor

3 comentários:

  1. Puxa, que coisa linda! =)

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  2. Ora, fico tão orgulhoso de tudo isso que nem imaginam. Dyne, é duro ter que ouvir isso, mas o Sávio está em boas mãos... teve uma vida maravilhosa com pessoas que o amaram incondicionalmente. Lute por ele, mas saiba também que sofrer é pior. Sei que é um bocado desproporcional dizer essas palavras agora, mas sei também que és consciente o bastante pra entendê-las como devem ser.

    Beijo forte!

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  3. Eis que finalmente, embora tarde, posso comentar o post. Um tanto orgulhoso por merecer tão ternas palavras, um tanto feliz por ter conquistado tão precisa amiga. Você me é querida por demais, Sandryne, e os olhos nos olhos, abraços e outras coisitas típicas de melhores amigos hão de acontecer em breve, estou certo disso. Por enquanto, fica aqui meu ombro amigo, meus ouvidos atentos que estão à sua disposição quando precisar. Muito obrigado pelo carinho.

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