sexta-feira, 19 de março de 2010

" Um pinico com dois paulistas dentro"


Eu tenho preconceito com o preconceito. E já sofri de seu mal uma vez: por ser nordestina. O ano era 2001 e eu trabalhava com produção de cinema. Um longa metragem de uma famosa diretora de cinema cuja locação principal era a linda cidade de Penedo, em Alagoas.

Eu era a caçula da equipe - tinha 19 anos - e sentia um carinho especial de todos , menos do meu diretor de produção. Ele sempre me tratava com frieza, distância e até grosseria. Eu trabalhava 14, 15 horas por dia, dava o meu melhor e nunca o satisfazia.

Só que a “marcação” começou a ficar notória. Até que um dia, subindo as escadas da casa onde ficava a base do filme, ouvi uma colega perguntando a ele a razão pela qual me tratava tão mal. Foi aí que ele respondeu: “não gosto do sotaque dela. Me dá enjôos”.

Eu ouvi tudo e foi um golpe difícil pra mim. Já não via minha família há 4 meses, não agüentava mais a comida do hotel, a frieza de um quarto de hotel...Desci as escadas decidida a fazer as malas e voltar pra casa. Até que encontrei a figurinista do filme que me viu chorando. Ela me convenceu a ficar, mas só aceitei porque abriu uma vaga para ir trabalhar em outra locação, na Bahia. E fui para bem longe dele. Acho que até hoje ele não sabe o que ouvi...

Eu poderia ter subido aquelas escadas, o encarado e falado tanta coisa, havia tantas palavras “engasgadas”. Mas eu me senti tão mal, como o preconceito dói. Eu só aprendi a lidar com esse tipo de situação anos depois.

O ano era 2006 e eu estava em Brasília conversando com o avô de uma amiga, um paraibano alegre e esperto. Ele me contava histórias da construção da cidade. Toda sua família saiu de sua terra natal e foram lá para trabalhar, ele como pedreiro. O vô me contou uma estória incrível sobre preconceito que eu ri tanto quanto aprendi.

Na década de 60, numa manhã de sábado, ele foi comprar um pinico. Quando chegou à venda, no balcão, apontou para o objeto e pediu ao vendedor:

- Seu Zé, o senhor me dê um pinico.
- Um o quê?? Perguntou Seu Zé, uma paulista que também foi trabalhar em Brasília.
- Um pinico. Insistia o avô da minha amiga
- Não sei o que é isso não!
- Aquilo homem, um pinico! Apontava sem parar.
- O que é pinico? Eu não tenho isso aqui! Irritava-se o Seu Zé.
- Menino, é isso aqui! Pendurando-se no balcão para chegar mais perto do objeto.
Seu Zé finalmente entendeu o que era e respondeu: - Ah, um nordestino! De que tamanho?
O avô da minha amiga respondeu: - Cabendo dois paulistas dentro tá bom!

Quanta sabedoria, vô...quanto jogo de cintura!

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